"Era noite já
Quando K. chegou."
(O Castelo, F. Kafka)
Imersa entre neve, bruma e treva
A aldeia de Mr. F.K. permanecia lá, imutável
Sobre a ponte, a olhá-la se deteve
Por longos minutos absteve-se de adentrá-la
De rever suas ruas e o Castelo
Olhava para o vazio, procurava um albergue
Entregue, arrastou-se tarde da noite pelas fracas velas e
Surpreendeu o senhorio por ser hóspede tão tardio
Adormeceu... De súbito, o Criador lhe apareceu
Estremeceu diante do conhecedor das faltas
Pôs preço aos seus pecados requintados
Eis aqui, um drama Kafkaniano bem delineado
Repete-se a trama, contingência
Pecado e tentação, sua herança
Conflito de personagens
Remete-se ao homem, a demência
Suprema, do Criador em ação
Recriar-se, da Criação, a imagem
Comparado à grandeza perdida
Aos mistérios distorcidos
Em instantes, encontra sua função no mundo
Pai, mãe e amantes vencidos
Frustrações inconstantes flamejantes
Amor, ética da religião e bons costumes; febris e delirantes
Arrebatando-lhe do estilo pagão e cético
Sucumbindo diante dos seus nobres ideais
Lei imutável da vida e da morte, és novo Édipo
Em 1922, lia para os amigos em congruência
As notícias dos jornais sem muita insistência
Foram fatais, os sonhos que ocultaram a existência
E, se permitia no Castelo de Franz Kafka
O roteiro do estupendo espetáculo de clemência
*Baseado em: O Castelo (1926) de Franz Kafka.