sábado, janeiro 30, 2010

Happy Jack, o forasteiro





Essa é a história de um homem
Que se escondia por trás de olhos azuis
Aqui, nesse vale de gelo
As crianças o conheciam por Happy Jack


Veio de longe, era o que dizia
Da ‘Ilha do Homem’, onde há um sol enorme
E, de lá, trazia um rosto queimado e
Areia branca em suas negras botas disformes


Tentando inferir-lhe aflição, as crianças o esnobavam
Cantarolavam o apelido do ádveno bronzeado e infeliz
Com cantigas pejorativas, o estrangeiro, importunavam
Chamavam-no de Happy Jack e escapavam por um triz


Diziam-lhe: Forasteiro mentiroso!
O atacavam com macacos de pelúcia
E, sempre que tentavam, as crianças conseguiam
Não havia como preveni-lo, faltava-lhe astúcia


Na verdade, usava-as em renúncia
Matava seu tempo a distraí-las
Fingia ser ranzinza e malvado, estar magoado
Era somente um homem triste e bronzeado


Eu te vi, Moon!
Fazendo malvadezas
Com Happy Jack
Eu te vi...


*Baseado na canção: "Happy Jack" do The Who, lançada em dezembro de 1966 na Inglaterra.
No final da música, Townshend pode ser ouvido gritando: "Eu te vi!"
Dizem que ele estava observando o baterista Keith Moon tentando adicionar a sua voz na gravação. Essa atitude do baterista não tinha a aprovação da banda.
Mas, foi o registro do grito do guitarrista que acabou gravado na música.

Vídeo: Happy Jack Cartoon


*Fonte: Youtube

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Entrevista com Pete Townshend





Boa tarde, Mr. Townshend
Olá, Mrs. Poison, aceita água com gás?
Não obrigada, vamos começar...


A guitarra elétrica definiu o Rock ‘n Roll?
Hum, claro que sim!
Deu-lhe identidade, ambição
Transformou-o num som peculiar, diferente
Próxima indagação...


O que a guitarra significa para você?
Pode-se considerá-la o símbolo de sua geração?
Uma de cada vez, Mrs.
Acho que, para entender porque ela é o símbolo das gerações 60’s e 70’s
E o que ela significa para mim, você precisa pegar uma
...segurá-la nas mãos
Conectá-la a um Marshall
Toque um, dois acordes e terá a resposta para essas perguntas


Você já teve muitas mulheres, já amou alguma verdadeiramente?
Nada é mais sexy do que uma guitarra, garota!
E seu cheiro... ah, inebriante!
Durmo quando tenho uma nos braços
A guitarra é a extensão de minhas paixões
Aquelas seis cordas.... as seis cordas são uma arma
Faço tudo com elas e as uso de várias maneiras
Três acordes no lugar certo é como preparar um prato e
Tocar para mim é como contar histórias com uma moral ao final
Comunico com o mundo e dou-lhe meus sentimentos mais profundos


Adorei, Mr. Townshend, pensava que fosse frio e monossilábico!
Quem foram os seus ídolos?
Não tive ídolos, tive amigos e estão todos mortos agora!
Janis Joplin, Brian Jones, Keith Moon e Jimi Hendrix
Eles foram e são ídolos de várias gerações
Para mim, eram amigos, grandes amigos


Como seria o rock sem esses caras?
...ah, não seria!
E sem a guitarra elétrica?
Não haveria identidade, não haveria..., sem chance Mrs. Poison
Para terminar, deixe uma declaração para os novos guitarristas...
Ok, muitos guitarristas tocam parecidos
Porque beberam na mesma fonte, possuem as mesmas influências
Jovens! Quando tocarem, entrem na nota e deixem sua digital nela
O som vem de dentro e a guitarra é o amplificador dos seus sentimentos, das suas emoções, das suas indignações


E não se esqueçam:
Nunca toquem minha guitarra e nem apontem o dedo para ela
E vê-la, eles podem Mr. Townshend?
Acho que já viram o bastante
Sou muito ciumento!
Adeus


Levantou-se e saiu da sala, cantarolando Johnny B Goode...
Pediu um taxi e foi direto para o ‘The Montcalm Hotel’, descansar.



*Entrevista concedida a Núbia Poison em algum dia de inverno na quase glacial, Londres.
*Pete Townshend: Peter Dennis Blandford Townshend (Londres 19 de maio de 1945) é guitarrista da banda The Who.

*Núbia Poison, integrante virtual e roadie dos Retinas Queimadas é jornalista das publicações Retinas News.
*Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Confissões de Lolita

Iniciei-me precoce, suave e irreverente
Aviltação em matéria da criação inconsciente
Sua sedutora mostrando-lhe o precipício bem à frente
Vangloriava-me, de início, na arte da sedução incongruente
Numa incerta hesitação adolescente



Humilhava-me por não ser flor
Desprezava-me por ter seios assimétricos, sentir dor
Jogava-me em seus braços num fascínio inacabado, quase-amor
Tornava-me antipática pela perdulária fertilidade
Apesar da idade, exigia-me quadris com habilidade



Não era “a que se cheire”, acusava-me em defesa
Fingia que iria lhe esquecer, recomeçar, um jovem de minha idade conhecer
Cedo ou tarde, igualaríamos em emulação e desacertos
Nas manhãs, preenchia-me de indelicadeza viscosa e espessa
Ao seu modo, terna violação, desfazia-me ilusões, presenteava-me com infames comparações



Não me deixaste pétalas ou folhas, só as palavras certas
Arrancaste-as em logro encanto, Sr. Humbert Humbert
Em incompatíveis emoções, seu forno me esquenta
Ferindo as conveniências, sendo inoportuno
Trouxe-me prejuízos e desvantagens e não se lamenta
Mas também lhe quis, desejei partir contigo, sem rumo, isso eu assumo!







*Baseado em "Lolita" romance 
de Vladimir Nabokov (1955).

domingo, janeiro 10, 2010

Vertigo




I


Divina morbidez humana


Aquela velha enfermeira

Não encontrou nada?

Nada! Aqui está sua bebida

Trouxe-lhe uns cigarros soltos também



Ah, tomara que eu bata as botas bem rápido!

Pare de pensar nisso, Matt

Vai acabar se tornando mórbido demais

Não me preocupo, só me divirto, meu rapaz



Capaz, se demorar o bastante... Ainda, resisto!

Sei que ela virá lenta, após o escarro

E, ele é vermelho, contém o meu sangue

Depois, acho que meu coração desiste...



O médico, em labuta, tenta me salvar, insiste

A enfermeira, tão branca, assiste

Ele, tão nobre, desliza no vômito

E faz o meu infarto

Se parecer com um filme do Monty Python



II


Ao final, o arrependimento não me servirá para nada


Foi ela...

O agouro veio dela

Depois que aqui cheguei

As dores só aumentaram, bem sei


Primeiro a prescrição médica:

Dêem-lhe um laxante!

Ótimo, pensei

Eliminarei o ‘Big Bang’ num instante


Mas, de súbito, ela, a Irmã Morgan

Suspeitou de algo mais grave

Pediu minúcias no exame

Introduziram-me a câmera, passei vexame!


O que, Sr. Higgins, era obstipação?

Filmaram e fotografaram minhas entranhas

E, infelizmente não...

Câncer no intestino veio-me a confirmação


Ha, ha, ha, Deus do céu! Ah não... Esqueci-me das velas

Ha, ha, ha, ha, Sr. Higgins, viva mais, supere as eras

Vim me despedir, trazer-lhe umas coisas

E acabo lhe servindo de público para suas piadas velhas...






*Baseado no HQ "Vertigo": nº2 (1993)

terça-feira, janeiro 05, 2010

No baile de máscaras, A Peste, sem disfarces



Se parece é porque é
Não adianta fugir, Próspero Príncipe
Nem se esconder com seus vassalos


Durante muito tempo, seus otários
Devasto esse país, sem ensaios
O sangue que brota dos poros como orvalhos
As dores e vertigens são a marca dos trabalhos


Esse processo não dura meia hora
Sou rápida em meus afazeres
Não há como fugir, não seja tolo, nem me ignore
É só o tempo para perdoar dívidas, detratores e recitar bendizeres


Cercaste-se numa muralha, fiquei sabendo
Lá dentro nada lhe falta
Tem bons vinhos, diversão a contento
Músicos e bailarinas, em segurança crescem seus rebentos


Mas, aqui fora só há desespero e lamentos
A face rubra da morte é popular em seu reino de ilusão
Sei que tens bom gosto, apreciador de cores e efeitos
Em sua festa havia tudo, muito brilho, fantasias e ornamentação


Então, o relógio ébano soou meia-noite
Aquela badalada metálica acelerou-me, gerou-me perturbação
Vesti a fantasia, rodopiando avancei pelo salão
Dancei com belas moças, até ouvir tua intervenção


Nosso encontro foi fatal, prostraste-se diante de mim
Só poderia terminar assim, com sua vida extinguindo-se em minhas mãos
Sou a Morte Rubra, orvalhando teu tapete de sangue, essa é minha sina

Dominar a Europa, espalhar aos ventos treva e ruína.




*Baseado no conto: “A máscara da morte rubra” 
de Edgar Allan Poe.

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Nossos dogmas, nossos rituais profanos









Enfim, tocaram em todas as minhas transgressões
Senti-me culpado, maculado, profano
Quando interpretei-as fez-se tarde os motivos, as razões
Diante dos olhos, a culpa, os meus erros mundanos


Tiraste-me o véu, enquanto olhava para baixo, não vi o teu céu
Manifestaram-se as possíveis possibilidades de perdão?
Excetuaram-no de mim; revelou-se plena a punição
Logo depois que morri, suprimiram-me a paixão
Banhei-me na fogueira de tua Santa Inquisição.