quinta-feira, março 22, 2012

Sally, o falsário



Seu número, Salomon Sorowitsch, será 75.517
Pilantra charmoso, um artista da cópia
O Rei dos falsários!
A polícia de Berlim sente-se honrada em prendê-lo


Um judeu russo capitalista
Nós conhecemos sua origem e reputação
Dar-lhe-emos a reclusão, mas não o ócio
Trabalhará para nós na prisão


O plano chama-se “Operação Bernardo”
É a execução de uma fraude perfeita, vá escutando...
... Emitiremos grandes quantidades de notas falsas
E nossa máquina de guerra continuará funcionando


Vocês são uns presunçosos!
Acham que podem ir adiante com esse plano tolo?
Os europeus perceberão, em breve, toda essa farsa alemã
E eu não trabalho com quem não fatia o seu bolo


...


Estou mofando nessa cela fria enquanto os alemães consomem
Consomem tudo feito formigas, consomem
A logística energética e o gasto de combustível são enormes
E Hitler sabe que homens bem alimentados são obedientes sob uniformes


Há quanto tempo está aqui, nessa cela, meu jovem?
Há tanto tempo que não sei mais mensurá-lo
Então venha comigo, vamos lutar, tentar sair...
... Desse lugar, ao menos morrer tentando escapar!


Prefiro ser executado a levar um tiro de graça
Ou morrer de inanição, fome e sede são uma enorme desgraça!
Em meio às traças, de que nos adianta sobreviver aqui apodrecendo?


Veja, está amanhecendo, venda sua alma, não seja idiota!
Trabalhe para eles e terá sua liberdade
Beberás e comerás ao lado dele, e poderá se deitar com qualquer mulher dessa cidade




*Baseado em: Os falsários.
Direção: Stefan Ruzowitzky (2007).

sexta-feira, março 16, 2012

Nenhum sonho pode ser mais longo do que um outono






Sem visão para vê-lo aqui de baixo
Da cama, há um louco em minha mente
E ele tem uma idéia, acho...
Bato com a cabeça e ela sangra


Na cabeceira, quando sentia-me bem
As palavras ecoavam dentro de mim
Verdadeiras, ao rastejar eu inalei impurezas
Não consigo encontrar recursos que estaquem o sangramento


Sobre a mesa, para aprender a manusear essa arma
Chamei pelo nome esquecido, arranquei cabelos, penteei-os
Não há alternativas para combater uma calvície provocada?
Pelas mãos, munições para se sentir homem com desejos humanos


Adulto, ser uma criança, ser um velhinho magro
De punir os atos impensados, simples assim...
Porque não pode haver diversão por aqui, nessa cabeça rachada?
Grisalha, não se pode encontrar o caminho para a luz sobre a calçada?


Sozinho não há o que fazer, estou calvo, sem peruca
Por lei, pena na solitária; desejos solitários, vida solitária
Devido ao formato que nos foi apresentada, a cela
Induziu-me à dias escuros e nublados como um hoje eterno


Eu tenho um sentido aguçado, quadrado...
... Ouço o chamado, vindo além das barras de aço
Caem as folhas do telhado, caem os cabelos, há tempos estou aqui
No assoalho, nenhum sonho pode ser mais longo do que um outono


Passo a não levar as coisas tão à sério
É sério, acredite nos meus ouvidos, eles nunca estão prontos para ouvir
Mas, eu ouço o espectro me chamando todas as noites
Nessa frequência inevitável eu o ouço



É verdade, eu ouço sua respiração
Desperto com seu susssurro em meus ouvidos
Seu nome, Todd Rundgren, sinto as batidas do seu coração...
Responda-me, todas as minhas dúvidas, num refrão


A única verdade absoluta, dizia o velho trovador
É a certeza da morte, e nela há que se regozijar
Para alcançar algo supremo e descobrir
Que certamente tudo o que eu quis sempre esteve fora do meu alcance



Suave maré de paixão, agora somente um sonho, amor esquecido...
É, somente um sonho como outro qualquer, esqueço o pavor
Puramente suplico por um barulho, a quebra das vidraças
Estou molhado e já não tenho toalhas para me secar o suor


Faça-me acordar e interromper esse sonho que não se finda
Entorpecido, há diversão sempre que eu desejar, um violão para tocar?
Um homem sozinho não consegue o perdão ao, de joelhos, suplicar e orar?
Eu não posso me manter em penitência eterna?
Devido a forma dos dias de hoje que passam tão rápido
Tenho um sentido afiado, e então, num esforço, acordo e ouço o som do ponteiro metálico


Tic-tac, tic-tac... Tic-tac, tic-tac... Tic-tac, tic-tac...




*A Todd Rundgren (22/06/1948)

quinta-feira, março 01, 2012

Longa ou curta (metragem)


"(...) A freguesia, relutante concorda
                          E a fila se faz interminável, prolongada na escuridão
                             Tumultuosos, os homens raivam e rugem de febre
                           Palavras altas, grossos palavrões, confusos gestos
        Muitos cambaleiam, na mão uma garrafa de cerveja ou cubra libre
          Gelo cantando nas bordas do copo: Helena, Helena, He... lená!"
                         (Trecho de "A noite sem homem" de Orígenes Lessa)




As traças no botequim
Criavam o cenário atrás de mim
À frente do quarto da Marivalda
“Uma guerreira descolada” definia-se assim!


Para mim, abatendo um “Rei-da-Selva” por dia
Contando-me a história de sua sobrevivência, vadia
Mantendo reserva, mantendo distância, encenando a novela do “horário nobre”
Fazendo uma “pecinha”, vasos de barro e pulseiras de cobre...


... Dirigindo um “filminho” com parco orçamento
Uma saga chinesa entre biscoitos da sorte descobriu o budismo
Perdeu-se pela lente de uma vida esnobe
Controla seu destino sob lençóis, com outros se cobre


No ato, seu espírito vaga e foge
Quanto ao corpo, quer conforto de pobre
Interage, acompanha... Nem sempre há colchão


Talvez de pé, quem sabe no chão?
E, em breves minutos se envolve, sem excitação
Mas, deixa as distâncias cada vez mais curtas, competindo com outras putas, a consumação.



*Baseado em: “A noite sem homem” (1976), Orígenes Lessa.