quarta-feira, novembro 23, 2011

Ao guardião dos portões celestiais


“Como o ar para os pássaros
Ou o mar para os peixes,
Assim o desprezo para os desprezíveis”.
(William Blake)













Subimos ao campanário e abri o barril safra 1801
Enchemos as taças e brindamos à arte e a poesia visionária
Eis que, em parte, enxergamos o inconsciente; fez-se real o imaginário
Vimos a mancha na reputação da humanidade, labéu e desdouro dos homens desarmoniosos, dos descrentes


Ignomínia e desonra, poder absoluto se consumindo em chamas
Hora do chá numa periferia fétida e úmida bem distante das gravuras em Westimnster Abbey
Intranquilas, flores envernizadas exalavam pela janela
Seu antiperfume; eram muitas, eram zínias amarelas


Como uma forma de desprezo e autoconfiança, delas
Já não precisam mais que as cheirem e são fiadoras de si mesmas
No largo jardim de lisonjas imune ao espetáculo de obcenidades estou
Assim como Blake, nesse sentido, sou romântico e vou...


... Cantando canções de inocência e experiências pela idade
E essas canções me apontam a Igreja e a alta sociedade como exploradoras dos fracos
Assim, pude perceber que minhas portas estavam apenas parcialmente limpas e


A imundície que me restou deturpava minha percepção, mas percebi o fantasma de Abel tranquilo
Revelando-me os dois lados d’ alma hodierna
E o pobre que escrevia aquelas coisas estranhas mostrou-me a negação da realidade da matéria e da punição eterna


*A William Blake (28/11/1757 —  12/08/1827).

sexta-feira, novembro 11, 2011

Em onze do onze



Morri no primeiro dia do ano onze
Era justamente o primeiro dia em que amei
Algo efêmero, que acabara de acontecer
Intensamente, tive febre e delirei


Suspirei... Subi as velas, naveguei
E, parti cantando “In-A-Gadda-Da-Vida honey...”
Foi-se, se partiu... Em onze do onze
Junto com a febre, o amor, cunhado numa estátua de bronze


Mas, ainda deliro, deliro muito e ao chegar esqueço o pavor
Desde então, decidi não mais amar, só sofrer, sentir dor
Ah, como eu queria ter-me tornado substância rija!
Ser desconfiado como Neruda tendo a firmeza dum pedaço de metal


Ainda não sei ao certo o que sou agora...
... Parte do mar ou um pensamento de George Bernard Shaw?
E, pelo vento que sopra de Minas fui amolado
Amolado por tanto tempo que percebo, deste lado


Direito, estou deixando de existir novamente
Ficarão apenas as coisas que cortei?
Um livro de Drummond na estante?
Aquele mesmo livro que, por egoísmo, não doei?


E, essas coisas...
... Cortarão outras coisas até se desgastarem também
Desgastado estou...
Ah, vou descansar, sim eu vou!



*Homenagem ao “Iron Butterfly”
E sua clássica canção “In-A-Gadda-Da-Vida” (1968)