domingo, abril 08, 2012

A peleja de Douglas Sanoj com David Bowie na Cidade dos Miguéis



Prenderam alguns revolucionários
Mas, a revolução continua, confirma a facção
Nessas ruas que levam à praça central, explode a indignação dos que querem mudanças
Saia daí camarada, afinal, política nunca foi o seu forte


Eu estou tão doente agora, por sorte...
... Verme, porque você vem aqui me perturbar?
E, porque você fica por aí quando eu te chamo?
Sinto muito meu amigo, pelas cobranças, tantas


Desconfianças, eu; eu desejo que você possa me ouvir
Como os golfinhos e os tubarões, como os golfinhos podem nadar
Em meio aos tubarões sem serem atacados
Embora nada, nada possa mantê-los separados


Do mesmo meio aquático; nós podemos combatê-los?
Utizando-nos da arte, poderemos ser heróis por um dia?
E eu serei um rei, um astro, um anônimo?
E você, você será sempre meu amigo, amigo do rei


E ninguém poderá nos tirar isto, antônimos
Jamais seremos expulsos de Pasárgada?
Ei de desafiar o mainstream e sua rudeza
Significará falhas de comportamento e muita destreza


Beberei em sua taça para celebrar esse momento
Porque nós estamos condenados à essa vida sem nobreza?
Isso é um fato; sim, também estamos apaixonados pelos dentes do Jonnhy Rotten
E vamos nos casar, cada um na sua cidade, seremos padrinhos recíprocos, "wanteds"


Ainda assim, nada nos manterá separados por muito tempo
Poderíamos roubar uns instantes de nossas garotas?
Nos encontrarmos para podermos ser heróis em plena segunda-feira
Originais, concretizaremos o plano, um de cada vez ou simultaneamente?


O que diríamos na hora da transformação?
Da mente, avante, vamos em frente!
Desejo que você possa mergulhar na imensidão...
... Um homem no fundo, dominando os confins dos oceanos


Eu, demasiado humano, podendo correr e saltar as montanhas
Pelo que estavámos esperando, pelos céticos?
Tintos finos, inimigos alados e seus raios elétricos?
E nosso tempo corre numa outra velocidade, quebra-nos a taça


Nessa cidade de luz selvagem, minúscula e promíscua com um milhão de ruas
Sem perspectivas toda vez que eu penso em percorrê-las
Parecia que o gosto amargo vinha antes da ação das putas nuas
Há Vicious, há Dylan, há Erasmo e não éramos tão doces como parecíamos


Insistíamos e vivíamos essa fraterna relação à frente do espelho acima do balcão
Negro e me deparei comigo mesmo, entretanto eu nunca peguei suas rápidas idéias
Nem um olhar minucioso para identificar os morféticos falsificadores
Eu estou perdendo velocidade para fazer aquela prova da virada


Carreiras, mudança de comportamento
Já não sei para onde vou...
... Encare o estranho som que vem do Bistrô Del Monte
São os Retinas Queimadas, o Mr. Klove ou talvez Tião Waits?


Não queira ser influenciado pelo que não te agrada
In Vinu Veritas, basta se reinventar frequentemente e ser
O que o tempo quizer que seja, invariavelmente
Mas, eu não posso voltar a ser o equivalente a você


Constantemente, essas ondulações mudam o tamanho da canção
Nunca deixaremos o fluxo de percepção esfriar nossa parca noção
E assim, só assim os dias flutuarão por nossos olhares empíricos
Naquele bar temático eles se parecem os mesmos dias de sempre


Fatídicos dias, sempre os mesmos dias, como crianças que correm no mesmo parque, sempre
A esmo... Sempre!
Porque elas vivem tentando mudar os próprios mundos?
E são imunes as consultas com aquele gordo doutor de jaleco imundo



Branco imundo, elas estão bastante atentas aos medicamentos manipulados
Não lhes digam para crescerem, fora disto só a dor e decepção
Não lhes digam para não ouvirem aquele disco do David Bowie
Onde está a vergonha que você nos trouxe ainda à pouco?


Até nossos pescoços se atolaram nisso
O tempo poderá lhe fazer mudar?
Mas você não pode mudar o tempo
Estranha fascinação, me fascinando, lhe fascinando


Mídia em MP3 tocando... Mudanças estão levando nossos discos, nossas fitas
Nunca imaginei passar pelo que estou passando
Olhe brevemente, todos nós envelhecemos
E, ainda posso me lembrar que fiquei parado nesse muro


Esperando aquele ciclista empoeirado voltar
Voltar e trazer a encomenda, aquelas armas apontando sobre nossas cabeças
E nós beijamos a encomenda, nada poderá inibir a ansiedade
A vergonha está do outro lado, nós poderemos combatê-la?


Reitero, podemos ser heróis por um dia também na terça-feira
Podemos ser heróis, sim, podemos ser heróis na quarta e na quinta feira!
Antes de descobrirmos que somos nada, e nada nos ajudará na sexta e nem no sábado
Talvez estejamos mentindo, então é melhor você desligar seu domingo


Aquele vídeo... “Diamond Dogs” que tanto te irrita
Se isso lhe deixar mais seguro, falaremos mal do David Bowie
Você só vem aqui para me dizer coisas sobre o Bruce Springsteen
Dizer-me que preciso ouvir “I wanna be your dog”, erguer o braço e dizer: Sim!


Que Iggy Pop é sensacional, que eu preciso conhecer sua obra com os Stoogs
Que descobriu um filme sobre Pink Floyd e o Mágico de Oz no youtube
Mas, você sabe muito bem que as músicas do Morphine e do Interpol tornam as coisas mais fáceis para mim
Ah meu amigo, você conhece minhas fraquezas musicais...


... Entre as quais, venha e não me pergunte sobre os sons antigos e aqueles filmes em P & B
Que eu lhe presenteei e você nunca os assistiu
Perda de tempo, não era a prioridade do momento?
Azul, cinza, verde e vermelho colorem meu “Jardim elétrico”


E essas são as cores do meu quarto, onde eu vou viver o azul marinho e o azul celeste
Lembra-te daquele cego esquálido, o mesmo que desenhou aqueles ciprestes?
Impressionista, desenha todo dia os mesmos ciprestes
Afinal, já não há mais nada para fazer, nada para dizer, inconteste


Agora, montador de móveis, azuis marinho, azuis celeste... Azuis atrozes
Ficarei sentado a esperar pelo presente sonoro que vem pelo correio
E a imagem, eu vou cantá-la pelo passado e pelo futuro, pelo hoje
Da minha visão, num Gol vermelho e da tua voz em devaneio


Companheiro, dentro da minha cabeça, perambularei com minha solidão
A sós, você não se pergunta às vezes sobre o som, o olfato, a visão e a audição?
Você é o único que me telefona com os cinco sentidos, pois não...
Alô... Porque você me manda torpedos tão tolos, mas cheio de significados e simbologias?


Sinto muito, minhas aspirinas acabaram, eis a dor...
... Quando você vier aqui, pedirei desculpas por
Não estar à espera, as coisas ficaram difíceis para mim
O som que me mostrou invadiu o meu quarto, agora o toco para ler o meu diário poético


Era só para ler e ver todas as coisas que você já sabia na prática
Que eu tinha escrito sobre você em meio à tantas ilustrações
Eu estou tão doente agora que vivo tendo alucinações
Mesmo durante o dia, as mesmas e velhas alucinações pragmáticas...




*Douglas Sanoj é uma personagem fictícia do romance 
"Vermelhos como chama".

segunda-feira, abril 02, 2012

Onde estão as chaves?



"Sim ou não?
Essa pergunta surgiu-me de chofre no sono profundo
E acordou-me"
(Graciliano Ramos: Insônia) 




Penso em matéria e morte
Mistura e separação...
... Benção, azar e sorte


Construir uma casa ao norte
Que me servirá por uma década
E, passo a perceber os que constroem pela primeira vez


Reminiscências inéditas permeiam esse lugar
Preenchem meu céu, trazem-me desabafo
Em desacato, dos fatos vulgares, tiro sarro


Acabei de chegar...
... E preciso entrar
Mas, percebo e constato
Que deixei as chaves, num outro lugar.



*A Graciliano Ramos de Oliveira (27/10/1892 — 20/03/1953)