terça-feira, maio 31, 2011

Por esses dias estive me procurando




“Na sabedoria está a dor
Aquele que aumenta seu saber aumenta sua dor.”
(Eclesiastes 1: 18)


Haverá alguém que possa cuidar
Cuidar tão bem de mim
Quando eu, enfim...
... Morrer?

Alguém que possa me libertar
Libertar de toda essa encenação
Que é a...
... Vida?

Cuidadosamente alguém
Que vá todas as noites
Preparar a cama para que eu...
... Descanse?

Solidão para mim
É como estar livre das amarras sociais
Ficar interpretando e interagindo
Com os mesmos e eternos velhos casais?

Atrocidades fizeram nossa estória
Depois das lágrimas no crepúsculo
Só nos resta brindar as derrotas
Há glória nas derrotas?

Deus, então...
... No alto de sua benevolência
Percebe uma chama em meus olhos
Ele a conduzirá ao meu coração?

Eu renascerei
Tenho certeza que renascerei
Por esses dias estive me procurando...
... Ontem?


*Homenagem a Antony and the Johnsons.

segunda-feira, maio 23, 2011

O silêncio de Keats





“Mesmo no templo do prazer, 
velada melancolia tem seu santuário soberano.” 
(John Keats)



No canto da sala, o violão negro toca. Tons e acordes, inerte toca solitário, toca. Toca uma canção fúnebre, de morte. Uma canção que traz um cheiro peculiar de

Flores vermelhas, brancas, flores. De um ritual doloroso que mata a esperança. Eis que um canto fúnebre celebra... Celebra, emanado das profundezas da garganta que

Fez uma vida de sensações chorar, pelos olhos, lágrimas. Lágrimas num tempo de deleite, um hiato, silêncio... Vida de pensamentos, beleza que tomba depois do som. Numa praia desolada inundada de silêncio


Do choro, antes da palavra velada. Derradeiro ao gemido dado de graça. Não há som de prazer que preencha adequadamente. O sossegado abrigo impelido a


Fazer-nos louvar as fantasias. Saúde do corpo e sua história efêmera. Adentramo-nos e sentimos a perda fatal. Faz-se a hora do amargurado funeral


Louvaremos diante do... Corpo e santuário dos mortos elevem-se à auxiliadora. Mães, do púlpito, reverenciaram ao. E, entre lágrimas, nos prostramos em silêncio a alma pecadora.


*A John Keats 
(31/10/1795 – 23/02/1821).

sexta-feira, maio 20, 2011

A hora da metamorfose (Pós-Escriptum)



Acabei de falecer...
E, ainda não sei perceber
Para onde estou indo arder


Procurei por uma placa de “Boas-vindas”
Não encontrei nenhuma, nada que me indique o que fazer
Consigo atinar-me só ao som das ondas e ao chegar das brumas


Caminho então, até o amanhecer, em qual direção?
Temo essa praia e não imagino como seria vagá-la em dispersão
Haveria de dia, barcos, aves, turistas e muita diversão?


Aguardá-lo-ei, mas não há nascer do sol convencional
Salinas, vento intenso e coçar dos olhos fazem-me muito mal
Rastejando passo horas, ergo-me diante ao lusco-fusco que me cega


Um inefável crepúsculo avisa-me e me absorve
Sinto e descubro que já é chegada...
A tão aguardada “hora da metamorfose.”



Imagem: Marcio R. de Medeiros

sexta-feira, maio 13, 2011

Venha comigo para o Castelo Karnstein




Olhe Mircalla, a tempestade está cada vez mais linda
Seus sons, suas cores e brilhos nos fascinam
Os fortes relâmpagos podem iluminar o Castelo Karnstein

Castelo este, que em breve
Será a tua morada na Terra
Entregue-me sua alma
Aprecie um tinto seco da família

Dê-me agora, vamos!
Torne-se um morto-vivo
E, somente o seu corpo, permanecerá nesse mundo
Dê-me agora, Marssila!

Sou a condessa Mircalla Karnstein
Estou morta desde 1557
Não posso vê-la condessa
Mas a ouço muito bem...

Estou aqui, eu e você
E mais ninguém
Não adianta me procurar no espelho
Aconselho, ele só mostra os vivos e os seus atos de desespero.








*Baseado na novela gótica: Carmilla (1872) de 
Joseph Thomas Sheridan Le Fanu: (28/08/1814 – 07/02/1873).

sábado, maio 07, 2011

Um momento fascinante

A chamamos no estúdio e...
Ela veio, atravessando a Abbey Road.
Faça um improviso, eu disse- lhe antipático.
Como?
Indagou-me esfregando as mãos frias.
Pense no horror, na tristeza, na morte ou coisa parecida!

No fundo, no fundo, sabíamos o que era necessário.
Ela... Ela nem tanto.
Improvise Clare Torry, improvise!
Assuma esse microfone e cante.
Seja espontânea, faça tudo bem rápido!
Se levante e comece, vá adiante...

Após a sessão, ela veio...
Aproximou-se cabisbaixa, e nos dirigiu a palavra:
Sinto muito, me desculpe!
Foi tudo o que conseguiu nos dizer.
Antes, tudo foi maravilhoso e brilhante.
Estávamos diante de uma diva e sua voz inebriante.




*A Clare Torry, backing vocal na canção: 
“The great gig in the Sky”, do álbum 
The Dark Side of the Moon (1973), do Pink Floyd.

terça-feira, maio 03, 2011

Eu sou tão criança



Escondo-me sob as chamas, tornar-me-ei cinzas? Inflama-me a alma; queimo-me em seus braços. Quentes e neles, meu mundo se fecha. Confundi a sua voz, afligido por. E ela, virando-se me disse: Conscientemente, é um adeus?

Em minha mente, ainda sou um garoto. Um velho garoto que insiste em permanecer. Assim, doce e triste, vamos brincar... Sou lúdico e esse é o poder dentro de mim. E ela, virando-se me disse: Você tem plena certeza disso?

Perdoe-me por não crescer. Poderei fenecer usando as mesmas roupas gastas. Hoje, eu só queria um dia completamente diferente. Sem contas, sem obrigações e responsabilidades. E ela, virando-se me disse: Quer tocar meu instrumento e gravar um novo álbum?

Vamos implorar por um dia bem cinzento. E inaugurar uma nova vida úmida. Sem precisarmos nos salvar um do outro. Apenas libertamo-nos e deixamos acontecer. E ela, virando-se me disse: Sem fraquezas à flor da pele?

Eu... Eu sou tão criança. Mas, meus cabelos estão caindo. Feito folhas no outono. Estão caindo, já não há esperanças. E ela, virando-se me disse: E minhas lágrimas, estão caindo?













*A Antony Hegarty.