quarta-feira, setembro 21, 2011

Você roubou meu vazio dourado (a Andy Warhol)


"She's just a little tease, she's a femme fatale
See the way she walks, hear the way she talks"
(The Velvet Underground)


Qual é a premissa?
Sua Pop Art rompeu as fronteiras da arte convencional
E agora, estamos saturados pelo consumismo da vida cotidiana
Tornamo-nos todos, porcos!


Como porcos, devemos assumir nossas posições?
Devemos olhar para o objeto até que ele perca todo o sentido?
E, perdendo o sentido, quem será capaz de suportar a realidade?
Suportar essa doentia realidade que nos morde!


Aqui, na The Factory eliminamos os direitos autorais
Afastaram nossas mãos da arte final, já não sabemos mais quem fez o que
Teatralidade... Não seria uma tolice morder na própria língua?
Não sou como você, queria só ser a Nico em “Chelsea Girl”


Mas, usei toda influência para criar e até montar uma banda
Segui os seus passos, Andy
The Velvet Underground foi uma jogada de mestre, devo concordar
Não venderam quase nada, mas quem comprou recebeu o ímpeto da criação


Um Duplo Elvis na Cadeira Elétrica, um porco auxiliar, um porco agiota...
... Flores e Autorretrato em 1967, Mitos, um Tumulto Racial em Birmingham; não sou neoliberal nem filantropo
Gold Marilyn Monroe, Femme Fatale é a terceira faixa, não canso de ouvi-la
E ouvindo-a pintei insólitas florestas, fiz extraordinárias viagens
Por aí...


“O mundo é surpreendentemente doloroso”
Encontros casuais também são dolorosos
A poesia, a arte e o caos não são
Mas, ainda acho que sou muito criança para entendê-los


Fiz-me humana e de ti, escapei por pouco
Sou Valerie Solanas, em 1966, fui eu quem criou “Up Your Ass”
E você a roubou de mim, roubou meu vazio dourado, Andy
Você controla demais a minha vida e eu vou atirar em você!


Veja só, depois que lhe apontei a arma, acabou sua autoconfiança
Feito um covarde você está implorando e tremendo...
... Ainda estamos no mesmo lugar, você me ama tanto, mas eu não posso lhe retribuir
Ah, eu vivo me surpreendendo!
Levante-se, pode ir...






*A Andy Warhol:
(06/08/1928 – 22/02/1987).

terça-feira, setembro 20, 2011

Aquela garota de 17 anos


“Cause everybody knows
She's a femme fatale
The things she does to please
She's a femme fatale”
(The Velvet Underground)




Vejam, lá vem ela...
... É melhor olharmos ao redor
Antes de escolhermos por onde iremos pisar
E assim, poderemos nos preparar para o pior
Ela irá partir nosso coração
Sem comiseração e muito menos dar-nos-á o seu perdão
Para um jovem de 17 anos é tão difícil entender
O que se passa naquele falso brilho dos seus olhos pintados


Tornamo-nos presas fáceis seduzidas pelos seus lábios perfeitos
Ela nos levanta e deixa-nos cair em frangalhos
Aqui no colégio todos sabemos que ela é uma femme fatale
Tudo o que ela faz só agrada a ela mesma, enquanto nós, otários



Ela é, na minha cabeça, a peça de uma grande intriga
Observo o modo como ela anda e ela me vê
Ouço o modo como ela fala e ela me lê
No bimestre passado tive meu nome escrito naquele livro que ela carrega



Entre seus braços, sou o número 57, ela mesma me confirmou
Em minha posição de palhaço-objeto, ainda faltam pouco mais de duas horas para o momento do desprezo máximo
Ela veio da rua 13, bem próxima aonde moro desde o ano passado
Antes de começar a falar ela já sabia tudo sobre mim, gesticulava contente envolvendo-me em sedução



Abatido pelas suas afirmações banquei o bobo tentando lhe dizer novidades
Isso é verdade, todos sabem que...
... Ela é uma femme fatale de 17 anos de idade
E ela me fez sentir coisas que eu nunca havia sentido antes, desde que cheguei aqui nessa cidade.


*Baseado em Femme Fatale, canção do Velvet Underground interpretada por Nico.

quarta-feira, setembro 07, 2011

Fängelse




Percebe o silêncio no tribunal?
Provas apresentadas, veredicto do magistrado...
... Então, todos se foram
Só você ainda está aí, meu mestre?


Você já não estava confiante com as provas que levantaste
Seu advogado de defesa o havia alertado, antes...
... Bem antes; será que sua mente privilegiada conseguirá se sentir livre agora?
Sem demora, cumpra-se a pena!


Dê-me a solidão, sem clemência
Dê-me a clausura, sem perdão...
... Diga-me Bergman


Existe algo além...
... Do frio, da morte
E da solidão?



*Fängelse (1949) é um filme do diretor sueco
Ingmar Bergman (1918 – 2007).