quinta-feira, julho 28, 2011

As coisas loucas confundem os sábios


Às vezes me pergunto
O que é a alma?
Seria...
A essência do espírito?


Ou significa ser algo mais tangível
Todavia intocável?
É o grito do Criador que nos impele à vida?
Um emblema celestial que nos une num único parecer?


A chama da existência humana ou a auto-expressão da carne?
Consegue perceber a desinibição e a loucura que é estar vivo?
A palavra da cruz é a loucura que aniquila a inteligência
Cristo crucificado foi escândalo para os judeus, é loucura para os gregos


Ouça... Sinto o “som da alma” tocando
Se aproximando...
Isso lhe deixa arrepiada, Mrs LaBelle?
Não, na verdade não, meu rapaz


Nada convencional importa para que possamos entender o sobrenatural
E nem ideologias políticas ou filosóficas, raças ou crenças
Não importa
Em breve gregos e judeus conhecerão a palavra e


Entenderão que a loucura do Criador é mais sábia do que todo o conhecimento humano
E a fraqueza de Deus é mais forte do que qualquer fortaleza construída pelas mãos dos homens
O que realmente importa é aquela velha canção de louvor batendo
E, de alguma forma, ela é capaz de elevar o nosso espírito às alturas do firmamento.






*Título baseado em: 1º Coríntios 1:27
*Homenagem a cantora soul Patti LaBelle.

terça-feira, julho 26, 2011

O anjo de Southgate

"In pace requiescat"


Valerie, aos vinte e sete, de volta ao negro
Perder-te, eu me nego...
... Eu quero nadar contigo, anjo!

Mas, a água daqui é muito suja
 Never clip my wings”, então... Nunca voaremos juntos?
Lembra-te quando Blake amarrou as tuas asas?

Estamos em Camden Town, dê-me sua Stella...
... Há nela, ainda, um último gole?
Lamento... Eu me enganei, agora tanto faz

Não foi preciso morrer cem vezes
Não foi possível voltar ao início
Limpos, seguindo em frente, não fomos capazes disso
Você se foi e não me disse adeus

E eu me volto para o luto, enquanto as lágrimas secam sozinhas
Sou astuto, mas não consigo me lembrar daquela última noite
E você nunca perdeu tempo em se arrepender por causa dela
Restou-me, na mesa, um copo e pedras derretendo como velas.


Homenagem a Amy Jade Winehouse: 
(14/09/1983 – 23/07/2011).
R.I.P. Amy Winehouse.

quarta-feira, julho 20, 2011

Qual de nós irá se machucar com ele?



Fui um copo de cristal por ti vilipendiado
Desfiz-me em mil pedaços
No momento em que fui derrubado
E, foi tão difícil me recolher daquele lugar...


... Propositadamente
Deixei um caco em nossa vereda
Um fragmento de mim mesmo
Apenas um caco para feri-la ao passar por ali novamente


Mas, a sua distração
Ao perceber o canto de um passarinho
A fez passar incólume
Pela armadilha do caminho


O caco permanece lá...
... Inerte, brilhando ao sol, despercebido na noite
Qual de nós, um dia
Irá se machucar com ele?




*A Liv Ullmann(16/12/1938).
Estrela dos filmes de Ingmar Bergman.

terça-feira, julho 12, 2011

O encontro de Friedrich Nietzsche com Charles Baudelaire




As coisas da Terra são ilusões
Em sua maioria ilusões fáceis de digerir
Mas, há também as ilusões que perturbam
Assim como há verdades que nos transtornam
Onde está a verdadeira realidade?
Nos sonhos, nas artes, no olhar do camponês?
Nas leis do parlamento ou nas ordens do Rei?
Talvez na arte, meu caro filósofo...
... Para que, diante dela, possamos nos erguer para contemplá-la
Ou até mesmo nos sonhos...
... Para que nós possamos nos alimentar dos nutrientes oníricos que nos distanciam da presença da Morte
É tão perigoso ver a totalidade das coisas, Charles
Os tons dos sons, das palavras, a altura da gargalhada
Sinta a maravilha que é estar vivo diante de um bom vinho
Inebriar-se com os terríveis espetáculos da natureza
E saiba:
Apenas dois puderam sentir o perfume que vinha do Jardim do Éden
Foi logo que eu saí Friedrich?
Não, foi um pouco antes de você chegar, Charles
O mensageiro trouxe aquela carta que você disse que rasgaria
Assim que se apossasse dela
Nem o conteúdo leria...
... Essa informação me fez ocultá-la
Uma forma de preservá-la, manter a verdade intacta
Mas, acabei escondendo-a
De mim mesmo
E agora, enquanto você sorri com a boca, Charles
Eu sorrio com os olhos.




*Homenagem a Friedrich Nietzsche e Charles Baudelaire.

domingo, julho 10, 2011

Os Retinas Queimadas na festa fantasma de premiação



Fizemos por nós mesmos e nos levamos na brincadeira
O tempo todo, desafio de adultos famintos por arte, comida e diversão
É sério...  Não sabíamos cantar e cantamos
Não sabíamos fazer música e fizemos


No salão de mármore nós recebemos...
... Os anéis de ouro, um símbolo da banda, de Nosfa #
Um símbolo do amor pela arte, pela música titânica
Não sabíamos como fazer e fizemos, está feito


Também não sabíamos como cantar em agradecimento, só gritamos
E cantamos
Gritando, correndo entre corredores estreitos
E salas amplas e largas cheias de fantasmas e dentes
E armários e armários, mais e mais armários


Derrubamos o troféu e ele se quebrou
Foi sem querer... Lou!
Não ao meio, mas em mil pedaços
Curtis Jones, pela lente fotográfica, constatou...


Espalhou-se por todo o salão principal e agora
Todos vocês que assistiram, sentados, a premiação
Podem ter um pedacinho do nosso troféu para se lembrarem
Se lembrarem dessa noite e do troféu que caiu no chão


Propositadamente, Rasec Augusto sussurrou-nos baixinho
E, todos desconfiaram dele e sorriram em aprovação
Afinal, de que vale uma pedra forjada na estante se empoeirando?
Melhor ela indo de encontro ao chão de pedra polida


E se rachou todo, antigo e frio, o troféu
Sob chiados e emissões de fluxos em faixas
Agora tudo acabou como deveria
Aparentemente, nessa interminável noite sem lua no céu



Em que os fantasmas nos rodearam e nos mancharam com ectoplasma verde
Das orelhas até os pés, vemo-nos e não acreditamos no que vemos
Sinto-me um caça-fantasma que brinca com Geléia
Foi o que Núbia Poison disse, olhando para Nosfa#


E pusemo-nos a rir freneticamente; eis que...
Um vento invadiu o corredor e ouvimos uivos e gemidos
Uma fria brisa irrompeu as fendas estreitas das portas dos armários
Eu, de medo, havia me escondi num deles, o de número treze


Lá de dentro, escuro; pude ouvir as correntes
Mais que o óbvio, sentir o cheiro ocre e admitir que...
Ele está em pedaços; assim nosso prêmio foi compartilhado
A estatueta, fria como uma serpente, pelo mérito do trabalho realizado.




*Baseado em '32 dentes': Titãs
*No dia em que os Retinas Queimadas participaram de uma festa de premiação musical num sítio assombrado em Brasília DF.

quarta-feira, julho 06, 2011

A retomada do básico




Estamos em 76 e eu tenho 17
Não consigo mais esperar pelo fim do mundo
Eu quero o fim do mundo agora!


Estou na platéia e somos melhores do que a banda
A banda que toca e nos toca, dá-nos a revolução
É loucura... Loucura pura... Contratem a platéia
Gravemos um disco à la punk onde não há músicas, só caos


Meu visual é rude e malcriado, anti-arte e anti-moda
Sou Dadaísta de vanguarda, detesto a harmonia e o bom gosto
A contragosto, falo de política só para discordar do Sistema
Não sou de esquerda e nem de direita, sou anarquista e sou o oposto


Punk, meu amigo, não é revolução política
Punk é revolução de estilo, sem retóricas e sem medidas
Punk é a retomada do básico: guitarra, baixo e baterias baratas
Os jornais vendem, as gravadoras lucram...
... E não temos nada gravado até agora!



*Baseado em texto do livro: “O que é Punk” de 
Antonio Bivar, 1982.