terça-feira, março 30, 2010

Não se preocupe comigo, sou apenas um matador psicótico



O nervosismo e a tensão não me deixam relaxar
O formato da ilustração era o que menos importava
Iniciei um poema que não saberei terminar
Espero por uma descarga elétrica, algo para me desintegrar


Falei demais, fiz coisas insanas durante a alucinação
Não consigo dormir, estou na prisão, não se preocupe comigo, desista
Acreditei nos homens, recuperei minha fé e levantei a questão
Iniciei-me no Daime por indicação de um velho amigo cartunista


Quando dei por mim, estava em disparada pela pista
Correndo, acelerando cada vez mais em direção à fronteira
Sou um matador psicótico, acabei de ouvir no rádio, que besteira!
Um “anônimo procurado”; o que fiz essa noite lançou-me à glória?


Odiei a educação dos cobradores de pedágios e por eles obtive vitória
Diga-me uma coisa por vez, concretize minha esperança
Tenho lembrança da compra da arma, não havia mais tolerância
Naquela estância a cegueira me fez ver, entre nós, a distância


Meus lábios estão selados, tenho sede e os olhos esbugalhados
Disse-lhes tudo, mais de uma vez, por que dizê-los novamente?
O que eu fiz esta noite? Porque estou contente?
O que ela me disse? Chamou-me de assassino demente!




*Homenagem a Glauco Villas Boas
(10/03/1957 — 12/03/2010).
Desenhista, cartunista e religioso, morto juntamente com seu filho em sua chácara em Osasco, SP, por Carlos Eduardo Sundfeld Nunes.
*Baseado em: Psycho Killer, canção 
dos Talking Heads.
*R.I.P. Glauco.





sábado, março 27, 2010

Dançando reggae na fábrica



Aos 36, ele me disse:
Ainda é cedo, tenha calma
Em receio, o questionei:
Será? Superaste os teus traumas?

A “Geração coca-cola” dança na fábrica
Em compasso, um reggae chamado:
“Baader-Meinhof Blues”
E ficam perdidos no espaço

Resgatados por soldados
Em traços, picharam nos muros um novo teorema
Que, por enquanto, se intitula:
“Petróleo do Futuro”; e saíram de cena.




*Dedicado a Renato Russo: (27/03/1960 — (11/10/1996).

*Poema baseado nos títulos das canções do álbum ‘Legião Urbana’ de 1984.

*Título extraído da canção: “Love in the Afternoon”

R.I.P. Renato Manfredini Júnior.

quinta-feira, março 25, 2010

Gauche na vida







Avião, pastas, rouxinol
Carros, mulheres, muitas gavetas
Futebol, gravatas e anjos tortos
Sombra de guarda-sol nos devotos


Degusto iguarias e
Aprecio conhaques
Sou frequentador de livrarias
Gauche na vida vestindo fraque
Revertendo as palavras, as sintaxes


De repente, espirro e não paro
Tusso e escarro clemência pura
Expurgo os elementos selados, os opostos ambivalentes
Suor, pus e sêmen expulsos em latência
Duma existência em pecados, parca alma, indigência


Meus desejos estão domados, tornaram-se escassos
Perco-me entre bondes por excessos de passos
Em acenos precisos, tomando táxis
Nutrindo esperanças a cada janeiro
Passo o ano inteiro contestando as práxis.



*Homenagem a Carlos Drummond de Andrade
(1902 - 1987).

sexta-feira, março 19, 2010

O Homem Lixo



Sou o "Homem Lixo" assistindo a TV
Contemplando no palco colorido, um apresentador prolixo
Me fixo, sem as mãos, vejo atento
Ele, a contento, mostrando-me moscas lunares

E assim, as dançarinas zumbis invadem os lares
Após o show de horrores da platéia
Não saiam daí, próxima atração:
“Lobisomem juvenil lidera a alcatéia”

Já vi esse filme, quem está atrás da máscara?
Não há compaixão, não tenho sofá, acompanho tudo do colchão
De solteiro, no canto da sala, cativo meus ácaros em adestração
E todos juntos, mandriões, acompanhamos a programação

O controle remoto é meu serviçal, exerce a função
De buscar divertimento e distração a minha disposição
Prende-me a atenção, sou óculo-manual, inclino-me a propensão
De ser seduzido pelo magnetismo, impelindo-me à aproximação

Insinuante, faz-me levantar, me traz a necessidade, fico fora do ar
Aqui nessa cidade, ninguém é sozinho, todos podem tê-la, pagar para vê-la
Aflito, me despeço, desloco-me interpretando uma personagem estranha... Entristeço
Pensando estar sendo sugado pelas suas elétricas entranhas...
... Adormeço.










*Dedicado a: 
Lux Interior e Poison Ivy 
da banda rockabilly The Cramps.






Fonte: Youtube
Video: Human Fly

quinta-feira, março 18, 2010

A vingança dos animais da floresta sobre o caçador e sua amada



Já desisti de aprovar teus atos, Hellen
Mas, também não desaprovo-te
Quando tens medo, teus olhos fazem coisas estranhas


Sei que não faz isso pelos outros, nem por mim
Satisfaça-se a si mesma com aquela oração de sempre
Não tiro vantagem dos teus vacilos, sabes disso


Allan, alguém chamou meu nome!
Não está acontecendo de novo!
Aquecer-me em teu fogo
É um dos poucos prazeres que me restaram ainda


E saiba, vou dizer:
Levo os prazeres muito a sério
Um bom fogo, um bom vinho numa nobre taça
São satisfações terrenas que faço questão de preservar


Além disso, quando te escolhi
Sabia dos teus afazeres
Conheci teus modos de vida aos poucos
E me surpreendi com todos eles


Sou um caçador, minha querida
Desde o inicio, fiz questão de mostrar-lhe
E minhas presas morrem pela minha mira
Não pelo prazer de Deus


Tranque a porta, volto ao anoitecer
Ah, não me deixe sozinha, ouça os uivos!
Vem de todos os lados e são de vingança aos sobrepujados
Sob o fardo do medo vou desfalecer?
Temo o crepúsculo e, no ocaso, aqueles seres distintos virão me abater...


terça-feira, março 16, 2010

A fuga do nada




Não havia origem
Nem ordem cronológica
O que era orgulho foi
Transformado em vertigem




A certeza da concepção
Alterada em culpa, em dissimulação
Viver é faina árdua
O nascimento torna-se punição




E a morte, indispensável
Antes, um horizonte limitado
Agora, um sonho interrompido
Traz-me uma serena perturbação
Ardilmente comprometo o estratagema
Renuncio a mim mesmo por vontade e representação.






*Baseado em citações de Schopenhauer
(1788 - 1860).

segunda-feira, março 15, 2010

Contentamento




Ao acordar, na cabeceira, o encontro
Com o velho novo livro ainda aberto
Marcando o caminho percorrido
Desde a noite anterior dormindo comigo


Abro a janela, o sol penetra em meu olhar
Traz-me o entusiasmo juvenil que preciso e peço
Dos sonhos e do pijama me despeço
Moroso, desço ao terraço


Lá embaixo, o jornal e o cachorro em seu laço
E, com ele atinjo a verdade que o jornal me faz esquecer
Vou ao banho me aquecer e escolho uma canção a dedo
Percebo um conforto pago, é a sensação da água morna irrompendo meus medos


Enfim, calço os sapatos e vou ao trabalho...
Lecionar, viajar, fazer amigos e cantar, o que se há de fazer?
Escrever, plantar, publicar e colher provisões
Diletante, dedico-me ao magistério das reflexões, das esperanças
E, aos idealistas e sonhadores famintos
Transmitir o saber, temperanças e emoções que só eu sinto.




*Baseado em: “Prazeres” 
de Bertold Brecht
(1898 - 1956).

quarta-feira, março 10, 2010

Entrevista poética com Adoniran Barbosa (Da maloca vinha o samba)




“Sou um cara triste, faço piada, mas é só por fora.”
(Adoniran Barbosa)





Dá licença de contar...
O mais ‘punk’ dos sambistas, um fumante inveterado
Sou a repórter Núbia Poison e esse é meu entrevistado
Sem data de nascimento definida, mas com destino bem traçado
Falo de Adoniran Barbosa e eram dois maços por dia
“Nunca comprados, sempre filados”, como ele insistia


Na Cidade Ademar, com Mathilde e seus cachorros
Construiu sua parada, teto baixo, varanda e quintal
Em ‘Jaçanã’, não havia morada, só direito autoral
Sempre irônico, explicou-me a ‘questã’:
Desse bairro me veio a rima com ‘manhã’


Não é fácil escrever errado as letras de meus sambas
Isso tem que parecer real, convencer o intérprete e o ouvinte
Preste atenção menina, ouça o seguinte:
Se não sabes concatenar e nem o público convencer
Só aplauda, pois a eles não terás nada a dizer


Também conto causos e aqui vai mais um
Igual a esse, nunca ouvi nenhum
Pedi um taxi e pelo trajeto ouvia no rádio, bem naquela estação
Os ‘Demônios da Garoa’ interpretando minha canção
E na frente, um motorista confuso com minha informação...


Ao invés do estúdio, anunciou-me manobrando:
Chegamos ao Hotel Eldorado!
E foi logo estacionando
Desci do carro, sem bagagem e desolado
Chamei então, o porteiro num verso sagaz
Meu rapaz, hoje minha mala será aquela enorme lata de lixo, olhe para a sarjeta
E sorrindo-me absteve-se da gorjeta.


*Entrevista concedida a repórter Núbia Poison no Hotel San Juan na Rua Aurora em São Paulo.
*Adoniran Barbosa: Sambista que nasceu em Valinhos, interior de São Paulo em data imprecisa e faleceu em São Paulo, Capital em 23 de novembro de 1982.
*Núbia Poison, integrante virtual e roadie dos Retinas Queimadas é jornalista das publicações Retinas News.

*Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

*Fonte: Mugnaini Jr, Ayrton: "Adoniran – Dá licença de contar..." Editora 34, 2002.

terça-feira, março 09, 2010

Dance Peter Murphy, dance


Esperei pelo homem, o molestador de corações
E ele, metódico e taciturno, deu-me as instruções:
Primeiro, pressione o botão ejetar
Depois, entregue-me, sem pestanejar, a fita K-7
Por fim, sinto fome, prepara-me o jantar
E com ele cearei, sem poder-lhe confiar


Tenho em mãos, a prova análoga da criação do conceito
Dito e feito, eram sombras de árvores e, delas desci
O medo perfeito do medo só sentia ao ouvir Strauss
De súbito, numa piscada o reconheci
Era Peter Murphy, dançando ao som do Bauhaus.




*Peter John Murphy: 
Nascido em Northampton, Inglaterra em 11/07/1957 
ainda é vocalista da banda de estilo gótico Bauhaus.

segunda-feira, março 08, 2010

Maestro indomável (A Beethoven)


Óh, nobre maestro indomável
Que fazes com o rosto ao violino?
Tua obra dá liberdade, faz do homem, menino

Absorto, percebo ao longe o som da flauta
E tu, nada ouves, gênio canhoto?
Que dize-me sobre as vibrações que fluem?

Muito mais complexa é tua obra
Evolui acima de minha compreensão
Diga-me: Suas notas, como são?

Memórias, acordes, misantropia
Erro médico, ledo engano
Sem ele, a “Quarta Sonata existiria”?

Inspira-te como o rio que corre insatisfeito
Vai para o mar e o nutre, toma novo caminho, atira-te
Exaltação dionisíaca, tua natureza é nobre e antiga

Quem possui harpas, prefere-as em Ré menor?
És um poeta-músico e melhor é tua pseudo-audição
Tuas cifras, notas, acordes e muita, muita percepção.






*Homenagem a
Ludwig van Beethoven 
(17/12/1770 – 26/03/1827).

sexta-feira, março 05, 2010

Entrevista com Ozzy Osbourne

A origem do nome, hummm...
Boa pergunta, Mrs. Poison
Black Sabbath, com Boris Karloff
O ‘Cinema de terror’ trouxe o nosso nome

Você assistiu ao filme, Mr. Osbourne?
Sim, havia um cinema em frente a um apartamento de cômodos negros...
... Na época, do nosso guitarrista, e, de lá vimos o cartaz
Acho que era uma noite de sexta-feira 13 bem chuvosa
Imagino a cena, Mr. Osbourne, surreal...
É Mrs. Poison, surreal é a palavra
...Lembro-me quando
O Iommi disse-nos:
O que acham de colocarmos influências de terror literário e cinematográfico nas canções?

Criar um conceito...
... Era fundamental na proposta de vocês, certo Mr. Osbourne?
Exato, começamos a escrever ‘músicas de terror’
E, desde então, li a Bíblia Sagrada algumas vezes e
Cantamos sobre a Morte, o Terror e o Fim do Mundo

A Bíblia Sagrada, Mr. Osbourne?
Há muita filosofia nas Escrituras, Mrs. Poison
Aprecio Deuteronômio no Velho, assim como Eclesiastes
Além de Apocalipse, é claro
Aquelas metáforas sobre O Fim são sensacionais, concorda?

Concordo, mas não as li, Mr. Osbourne
As suas canções! Ouvi; ouvi muito o primeiro álbum e, Paranoid...
Iron Man, é o toque do meu celular, Mr. Osbourne, pode acreditar
Grato, Mrs. Poison, grato
Diga-me Sr. Ozzy, como foi gravar o primeiro álbum?
Ha, Ha, Ha, essa é uma história engraçada, hhããã
Quando levei nosso primeiro disco para casa
Meu pai estupefato, olhando-me perguntou:
Ozzy, tem certeza que só bebe cerveja?
Foi, no mínimo, desconcertante tentar explicar
Na verdade, não havia explicação, não é Sr. Ozzy?
É, vamos mudar de assunto

E o seu conceito sobre o Heavy Metal?
Detesto a conotação, Mrs.
Significa “chumbo do grosso”, onde está a música?
Tudo é Rock ‘n Roll, basicamente Rock ‘n Roll
Uns tocam acelerado, outros mais devagar... Alguns tocam mais alto
Outros até abaixo do normal
Mas, basicamente, tudo isso é Rock ‘n Roll
O que nos importa?
Transformar nossos fãs em fieis seguidores
Essa é a hora da metamorfose
Pois, transforma-se a essência
E isso, confunde as aparências

Sincero, Mr. Osbourne, sincero...
Conte-nos sobre os shows, como eram?
Ah, as coisas mais esquisitas acontecem num show de rock
E nós, aprontávamos tanto
Bem, a verdade das coisas só aparece pelas pequenas frestas
Qual era mesmo, a pergunta?

Conte-nos sobre a lenda... Sr. Ozzy
Qual Mrs. Poison, a de ter comido o morcego?
Exatamente, Sir.
Qualquer coisa que lhe disser não me servirá de nada
Carregarei o estigma por toda minha vida
Mas, quem sabe, se... Realmente não acabei comendo um
Na verdade, queríamos dar
Uma sobrecarga exagerada nos sentidos
Penso ser essa
A melhor definição
Para o som que
O Sabbath fazia nos 70’s

Se gosto do Kiss?
Sempre acompanhei o trabalho deles de alguma forma
A pintura nos rostos, os bonecos articulados
Eles invadiram os lares americanos por meio das crianças
Nisso, eles foram muitos bons!
Fomos uma reação a calmaria dos hippies; eles lá, nós aqui
O mundo admite, Mr. Osbourne, vocês chegaram com tudo!
Isso, a gente chegou com tudo, Mrs. Poison
Tinha muita encenação ou vocês eram realmente aterrorizantes?
Isso foi o Rock Teatro, idéia do Alice Cooper
Aquilo sim era “Show de horrores”
Éramos bandas de Rock ‘n Roll e, éramos cheios de idéias

Ok, Mrs. Poison?!
Finalizaremos agora, preciso ir alimentar meus cães
Grato, Mr. Osbourne adorei sua generosidade, sua recepção
Na verdade, vou correr no vazio, adeus garota
...antes que eu tenha que lhe explicar
Sobre o Polca Tulk Blues.



*Entrevista concedida a Núbia Poison no S e M Cafe em Londres.

*John Michael Osbourne, conhecido como Ozzy Osbourne: Birmingham, Inglaterra, 03/12/1948 foi vocalista do Black Sabbath.

*Boris Karloff em 1964 apresentou "Black Sabbath", dirigido pelo cineasta italiano especialista em horror: Mario Bava.

*Núbia Poison, integrante virtual e roadie dos Retinas Queimadas é jornalista das publicações Retinas News.

*Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

quinta-feira, março 04, 2010

terça-feira, março 02, 2010

Corbijn Girl (vestida de negro)





Eis a casa onde tudo acontece...
Onde me desfaleço à sombra de amplas cortinas
Por ela desço ao sótão e não reluto
Tanta indiferença só umedece-me as retinas
Recebe-me sempre coberta por um negro véu
Aqui, todos a conhecem por Corbijn Girl



Seu olhar excitante me reprime, sabe a hora de altercar
Implorando-te, nunca deixei de tentar lhe agradar
Sob injúria e exação não eximo em refutar e propicio o domínio
Em insulto ela não me diz uma palavra sequer
O preço da companhia, pagarei em vicioso tributo
Privo-me de razão diante daquela mulher



Vestida de negro e a me fitar, lentamente...
... Cai sobre mim, traz-me o corpo e dá-me a dúvida
Eu, benevolente, vejo no espelho uma imagem dúbia


Sou apenas um reflexo em seus olhos escuros
Crio uma representação latente distorcida de mim mesmo
Tornei-me peça do seu jogo e, nele, me movimento a esmo.

*A Anton Corbijn (20/05/1955), fotógrafocineasta.
*Baseada em Dressed in Black (1986), canção do Depeche Mode.

Dressed in Black: Depeche Mode (by Anton Corbijn)

Fonte: Youtube