sábado, fevereiro 26, 2011

A mais audaciosa mentira da História






Chegamos ao fim, minha querida
Ao fim de nossos planos elaborados
Ao fim de nossos passeios entre amigos, ao fim do nosso próspero Império
Devemos concordar, estamos amedrontados!




Falo sério, no pátio central, todas as crianças enlouqueceram
Estão atônitas esperando pela chuva de verão
Estaremos, em breve, passando por uma perigosa periferia
E eu preferia, que tudo isso acabasse de vez




Preferia te libertar dessa situação, preferia...
... Nunca mais cantar aquela triste canção
Dos derrotados, deixar que as convenções tomassem conta de...
... Nós e parássemos de promover festas no fim da noite e iniciássemos a diplomacia




Sim a diplomacia! Trar-nos-á dor essa cortesia?
Assim como, traz-nos dor, o matador do elmo azul
Que queimou toda a exposição da galeria sacra que preservamos com tanta devoção
Que cavalga em busca de mentiras ásperas, num estilo alternativo pagão




Que anda pelos corredores em busca da próxima vítima
Que faz guerra para se divertir e em 441 dominou o Império do Oriente
Ouça, estão nos chamando para a próxima partida
Vamos seguir pela estrada medieval que corta a planície húngara
E, nos encontraremos com Átila, o astuto rei dos Hunos




Bárbaro nômade, sinônimo de destruição do nosso Império Cristão
Predador pagão, um rei errante desesperado pelo ouro dos romanos
Cortará as orelhas da princesa, arrancar-lhe-á seu nariz?
Afinal, nunca faz o óbvio e embaraça o Imperador, é isso que faz o bárbaro
É a Praga de Deus que carrega no peito uma estranha cicatriz




...




Vamos ao ocidente, o oriente se esgotou... Vamos conhecer Honória
Eu só quero a benção, metade da Europa e todas as glórias
Para o vencedor, sou o Flagelo de Deus, onde está o nobre exército romano?
Eu, Átila, pergunto-lhes: Não há mais razão para lutar?
Vocês dependem do suporte da Igreja, tragam-me o Papa para dialogar!




E o Papa Leão I apareceu...
... Sobre ele, Pedro e Paulo sobrevoavam e confirmavam a postura dos Santos
Transformaram o rei assassino num pusilânime amedrontado
Por outro lado, um acordo financeiro foi firmado
Voltando para o seu reinado, Átila na primeira noite de lua-de-mel
Caiu morto, diante da noiva, como um castigo dos céus
A Besta morreu em 453, sucumbiu o Senhor da Guerra pondo fim à peleja...
E Roma se ajoelhou diante da Igreja.




Átila, o Huno (406–453), 
também conhecido como “Praga de Deus” ou “Flagelo de Deus”, 
foi o último e mais poderoso rei dos Hunos

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Estou amando... Outra pessoa!




Ouça meu coração se quebrando
Bom, ainda sou seu amigo?
É difícil mantermos o mesmo tipo de diálogo
Você me disse desviando o olhar

Isso só parece embaraçoso...
Aos nosso próprios olhos... Devemos tentar...
Continuar?
Voltarmos a nos encontrar?

Lembro-me quando saíamos para beber por aí
E, sempre, depois de bêbados
Compartilhávamos nossos segredos
Diga-me com sinceridade, Madeleine

Alguma vez, percebeu que, por você
Meu sentimento havia mudado?
O jeito como a olhava foi se tornando...
Bem, você sabe, eu tenho um relacionamento...

... Sério!
Um amor antigo, meus amigos a conhecem
E eles sabem que eu tinha um compromisso
De vida, e não vou conseguir cumpri-lo

De repente
Ouço tocar
Aquela canção
Do Bonnie Prince Billy:

“Love comes to me
Love comes and all
It's my hands, my heart, my lips
and that is all…”


O amor é capaz de surgir de uma amizade?
Tão verdadeira; isso é-me estranho e motivador
Engrandece minha mente, dá-me ímpeto
Você fez minha vida querer mudar de direção

Mas, és capaz de enxergar esta contradição?
Preciso terminar um relacionamento sólido
Outrora a “mulher da minha vida”
E tentar algo impreciso porque eu te amo
Você sabia o quanto eu te amo?
Há esperança que, de alguma forma, você possa...
... Possa me salvar desta escuridão?
Espero que, eu não tenha ido longe demais

Com as palavras, e possa novamente
Voltar a ter paz
Não me sentir culpado pelo sofrimento
Que vou causar a ela nesse momento
Ligo, marco um encontro e ao vê-la engulo o sorriso
Ela chega, perfumada, abraça-me; o tempo pára
E entorpece tudo em minha mente
Nunca mais dormirei contigo, afirmo-lhe descontente


Será que poderemos ter paz em nossas vidas?
Juntos ou separados, não importa

O amor acabou de vez, fique com as alianças
E uma nova descoberta romântica...
Um dia; renovar-lhe-á esperança.



A Will Oldham, 
também conhecido por 
Bonnie 'Prince' Billy.
Músico, cantor, compositor e ator norte-americano.

sábado, fevereiro 12, 2011

Terence Fisher derrota o mal



"Quero dos deuses só que não me lembrem."
(Fernando Pessoa)






Em seu tempo, imprima cores no estilo gótico
Mostre-nos que o sangue é realmente vermelho
Abuse da sensualidade e do horror explícito
Seja capaz de inovar diante do desespero


No futuro, isso se parecerá moderado aos olhares mesquinhos
E, mesmo numa temática escatológica e sombria
Os Estúdios Hammer engordaram seus porquinhos
Parece que, o desprezo da crítica só lhe trouxe benefícios



Sem maiores artifícios, de estilo próprio muito bem definido
Heterogeneidade entre contos de fadas, mitos e sensualidade
Realidade cristã fortemente presente na contemporaneidade
Superstições místicas e literatura pagã, personagens céticos, sobrenaturais...



... Um herói que derrota as forças do mal e salva a humanidade
Por meio da fé em Deus e da razão empírica ou do estudo aprofundado
Sobre o assunto, como acontece na maioria das vezes, um alento
Somente após sua morte é que houve reconhecimento do seu enorme talento.



*Homenagem a Terence Fisher
(23/02/1904 — 18/06/1980), 
diretor de cinema britânico.

domingo, fevereiro 06, 2011

A batedora de carteiras



Tão jovem e repleta de ferrugem
Uma groupie sem reflexo no espelho
Tal qual um espectro pelas ruas de Londres
Fugiu do quarto 100, percebendo que perdera os lábios


Vermelhos, nos ombros o peso da estupidez
Deixara a inocência na América, sua adicção tornava-a oca
Parecia não ter sangue, fé muito pouca...
Algo mais nos gestos pálidos, na insensatez?


Seus olhos não remetiam dó nem piedade
Inválidos, como cães de rua famintos...
Que vagam por comida nessa cidade
Andam nos becos, procurando um afago


Aquela menina vaga pensando em Vicious
Pelos arredores do Chelsea Hotel na busca de um trago
Procurando fugir da realidade, num baixo teto voar
Sob picadas, por saciedade, sem desejo de parar
É obsessiva e aperfeiçoou-se na arte de punguear.



*A Nancy Spungen
(1958-1978).

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Desenhos queimados e um sonho de caos

"Somente a realidade me interessa agora..."
(Alberto Giacometti)




Frequentemente não me lembro dos sonhos que sonho, mas o de ontem colorido, chamou a atenção e, ao acordar, numa prosa onírica tracei letras, construí frases errando palavras e, percebi que, ainda estava dormindo e nele, havia ourives e alfaiates, almirantes de branco e jangadeiros dourados, magistrados de gravatas borboletas, professores, doutores de branco, doutores de preto com gravatas pretas, engenheiros e seus chapéus de plástico amarelos, escultores e pintores de jalecos brancos manchados de tintas coloridas, curadores de museus e uma bibliotecária...
Não me diziam uma palavra sequer, mas eu sabia quem eles eram, não pelos nomes, mas por serem bons e perversos e me cercavam e cometiam falhas em suas ações.
E rogaram o perdão, defenderam a honra; talvez na soberba viesse a dissimulação, para poderem sentar à mesa e festejarem todas as capacidades e suas proezas técnicas, enquanto forem capazes de... Dar.
... Esmola aos pobres, doarem sangue, impostos pagarem? Ou melhor sonegar? Livros na biblioteca demorar a devolver. Catalogar quadros valiosos, comprar jóias e apreciá-las; para que os discípulos miseráveis e o amor que eles juraram com seus corações sobre a Bíblia Sagrada venha, de certa forma, fazer com que vivam por mais tempo do que o necessário.
Tornar-se-ão rascunhos de si mesmos, com suas faces esticadas e, por seus vícios pagarão o amor que precisam de seus mártires, de suas amantes...
Precisam de seus sacrifícios capitalistas para que o amor deles seja a morte de meus irmãos e então, só a alma de cada um restará e não poderemos vê-la, sob os ternos negros de dois botões abertos ou sob os jalecos brancos abotoados.
Porém, o espírito deles viverá em meu coração e nos de todos os que tiverem coração pulsando sobre a terra e não forem indiferentes ao que está acontecendo ou ao que já aconteceu.
Seu tribunal explorar-nos-á como lábios que exploram outra boca e seus sorrisos farão brilhar esse corpo que é um halo e suas mentes serão julgadas pelos atos cometidos durante a noite em que dormiam profundamente.
Certo como Baco é Ariadne naquele quadro de Ticiano, certo como Diana é Acteon na renascença veneziana, certo como Jonas foi expelido do ventre da baleia, eles são ladrões, adoram à Vênus e anunciam um amor torto naquela prisão em que não há carcereiro.
Meu Deus, como eles foram parar dentro daquelas celas imundas?
Como, depois de tão pouco tempo, eles já estão à solta novamente?
E o amor continua precisando de seus mártires, precisando de seus sacrifícios, enquanto eles vivem para suas próprias belezas e pagam por seus vícios, ostentam os seus vícios numa bandeja que passa de mão em mão e que, não sei como, nunca chega até a mim.
Eu ouvi o boato que se espalhou ainda ontem, você sabe como funciona isso, o modo como as pessoas são; o rancor será a morte de todos nós, de meus companheiros que cresceram comigo vendo televisão.
Vendo alma, vendo especiarias e dou o troco.
Ouço muitas vozes, elas falam e elas falam, apesar delas não entenderem o que dizem e elas irão sussurrar e sussurrar em nossos ouvidos e mentir até acreditarmos que tudo o que foi dito tinha um sentido.
Diga-me agora, eu insisto em saber, eu quero escutar de seus lábios que não é tão bem assim tudo o que me foi dito no sábado.
Chorei e já na segunda ouvi de novo e ri um pouco, na terça não me lembrava de tudo o que havia ouvido e na quarta você tornou a repetir e eu perdi a paciência definitivamente.
Na quinta, minha calma foi restaurada, mas na sexta... Onde eu estava com a cabeça?
Eu quero conhecer mais sobre as profundezas da sua mente.
Diga-me que tudo isso é loucura e nós estamos indo bem com essa mentira.
Fujo de um índio, corro muito e ele andando calmamente me alcança.
Nunca sonhei colorido, acredite-me, não sei por que insisto em fazê-lo, nunca me esquecerei das cores daquelas penas.
Na cabeça, ponha sua pequena mão sobre a minha e interrompa toda essa confabulação onírica.
Faça-me voltar a acreditar no amor, encoste-se ao meu peito e cante baixinho um louvor
Agora estou caindo de um precipício, de repente, vôo...
Estou mergulhando dentro de um lago escuro e não posso ver nada, mas sei que estou sendo observado, vou à tona, respiro e você me resgata e diz sem abrir a boca...
... Respire amor, para eu poder ouvir de Bruegel que ouviu de Coecke que ouviu de Cock que o velho pedia para sua esposa queimar todos aqueles desenhos de natureza inflamatória.
O pai de Mayken ouviu e jurou pela Bíblia mais que sagrada que essas obras causariam problemas.
Um embate de energia caótica, como foi lido, por mim naquele exemplar da Sextante; agora me lembro, tudo isso faz sentido, foi o livro lido, foi o livro...
Que dizia a “Verdade”, e a “Verdade Absoluta”, estava bem ali, diante dos meus olhos, na estante.
E eu ouvi dos caçadores na neve que ouviu James confirmando com Núbia e eles estavam no Museu Kunsthistorisches.
Tinham um culpado, isso eu ouvi na época em que o carnaval se encontrava com a quaresma naquele mesmo museu em Viena.
Áustria, terra da valsa; deve ter sido em 1559 ou 1561, que dissemos com convicção que toda esperança tinha acabado por um castigo de Deus.
Então eu preciso saber sobre sua penitência, eu preciso ouvir da sua boca que você me ama, antes que me diga adeus.
Antes que esse sonho acabe definitivamente...





*A Pieter Bruegel, o Velho 
(1525 – 1569).