quarta-feira, janeiro 12, 2011

Tão frio como o olhar de Candy Darling




Antes da parada fulminante, pensei:
Se eu morrer agora, quem cuidará de meus quadros?
Quem apagará os meus rastros?
Quem eliminará todos os ratos?


Os mesmos ratos que, por anos
Frequentaram minha casa e cearam comigo
Tomaram meu vinho, comeram meu queijo e me abandonaram pelo caminho
Eis que, uma dor aguda tomou o meu corpo e passou...


... Morrer não é tão doloroso, afinal
E, vejo novamente os ratos que voltaram...
... Estão todos aqui me olhando e participando solenemente do meu funeral
Agora, sou um espírito


Sinto-me como tal
Leve, como um sonho livre e concluo
Que, por muito tempo fui uma realidade congelada
Como o olhar de Candy Darling naquela capa de 2005


Mas, pelo menos durante algum tempo, com afinco
Havia espaço para contestações e curiosidades
Minha vida sempre foi de questionamentos e pertinácia
Não agradar a primeira vista era minha eficácia


De pé, no cemitério, ouvindo o cantar de um único pássaro
Vejo as pessoas especializadas me enterrarem
Com certeza foram pagas para esse serviço
E, já estão totalmente acostumadas com isso


É uma manhã nublada e brilhante
Nunca tinha visto uma assim antes
E, sinto-me tão livre como a luz; vou agora...
Caminhando pela via que me conduzirá


A tão aguardada região celestial
Finalmente, agradeço a Deus, abandonei o meu corpo... 
De maneira natural e, não há mais 
Aquela velha e imunda forma carnal.


Homenagem a Antony and the Johnsons e o álbum
"I Am A Bird Now" (2005).

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