sábado, junho 18, 2011

A pureza é um mito




Guardo essas fotos há tanto tempo
Que consigo sentir o seu calor presente nelas
Essas imagens são tudo o que possuo de ti, agora
Nós dois rindo, brincando, nos divertindo...


Ah, como era lindo o seu sorriso, o seu cabelo dourado
Quando a chuva caía e o céu desmoronava
Você voltava...
... Voltava para o meu lado em busca de conforto


Tirava-lhe o medo do seu semblante
E a mim, se entregava, como uma amante
Eu sempre me mantinha perto dos seus medos
Doravante, você declinava em meus braços e gemia baixinho


Mas, o medo se irrompeu do seu caminho
Finalmente, encontrou a coragem para enfrentar a vida
Sozinha...
Não mais se sentiu perdida no escuro


Entre lembranças e fotos, eu murmuro
Pensando em você, como costumava ser nossos encontros
Logo cedo, lentamente, percebo uma lágrima cair
Agora, sou eu quem vivo sob o jugo do medo


Escapaste de mim em silêncio
Estás nos braços dos anjos que domaram suas quimeras
Depois que dominaste o pavor, só vive de ilusões e pureza
Lembro-me de Oiticica que nos disse:
“A pureza é um mito”
Então, abro meus olhos, olho para o céu e te procuro no infinito.





*Hélio Oiticica (1937 – 1980), foi escultor e artista performático.
Ele é considerado o pai do Tropicalismo.

Um comentário: