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domingo, janeiro 10, 2010

Vertigo




I


Divina morbidez humana


Aquela velha enfermeira

Não encontrou nada?

Nada! Aqui está sua bebida

Trouxe-lhe uns cigarros soltos também



Ah, tomara que eu bata as botas bem rápido!

Pare de pensar nisso, Matt

Vai acabar se tornando mórbido demais

Não me preocupo, só me divirto, meu rapaz



Capaz, se demorar o bastante... Ainda, resisto!

Sei que ela virá lenta, após o escarro

E, ele é vermelho, contém o meu sangue

Depois, acho que meu coração desiste...



O médico, em labuta, tenta me salvar, insiste

A enfermeira, tão branca, assiste

Ele, tão nobre, desliza no vômito

E faz o meu infarto

Se parecer com um filme do Monty Python



II


Ao final, o arrependimento não me servirá para nada


Foi ela...

O agouro veio dela

Depois que aqui cheguei

As dores só aumentaram, bem sei


Primeiro a prescrição médica:

Dêem-lhe um laxante!

Ótimo, pensei

Eliminarei o ‘Big Bang’ num instante


Mas, de súbito, ela, a Irmã Morgan

Suspeitou de algo mais grave

Pediu minúcias no exame

Introduziram-me a câmera, passei vexame!


O que, Sr. Higgins, era obstipação?

Filmaram e fotografaram minhas entranhas

E, infelizmente não...

Câncer no intestino veio-me a confirmação


Ha, ha, ha, Deus do céu! Ah não... Esqueci-me das velas

Ha, ha, ha, ha, Sr. Higgins, viva mais, supere as eras

Vim me despedir, trazer-lhe umas coisas

E acabo lhe servindo de público para suas piadas velhas...






*Baseado no HQ "Vertigo": nº2 (1993)

terça-feira, janeiro 05, 2010

No baile de máscaras, A Peste, sem disfarces



Se parece é porque é
Não adianta fugir, Próspero Príncipe
Nem se esconder com seus vassalos


Durante muito tempo, seus otários
Devasto esse país, sem ensaios
O sangue que brota dos poros como orvalhos
As dores e vertigens são a marca dos trabalhos


Esse processo não dura meia hora
Sou rápida em meus afazeres
Não há como fugir, não seja tolo, nem me ignore
É só o tempo para perdoar dívidas, detratores e recitar bendizeres


Cercaste-se numa muralha, fiquei sabendo
Lá dentro nada lhe falta
Tem bons vinhos, diversão a contento
Músicos e bailarinas, em segurança crescem seus rebentos


Mas, aqui fora só há desespero e lamentos
A face rubra da morte é popular em seu reino de ilusão
Sei que tens bom gosto, apreciador de cores e efeitos
Em sua festa havia tudo, muito brilho, fantasias e ornamentação


Então, o relógio ébano soou meia-noite
Aquela badalada metálica acelerou-me, gerou-me perturbação
Vesti a fantasia, rodopiando avancei pelo salão
Dancei com belas moças, até ouvir tua intervenção


Nosso encontro foi fatal, prostraste-se diante de mim
Só poderia terminar assim, com sua vida extinguindo-se em minhas mãos
Sou a Morte Rubra, orvalhando teu tapete de sangue, essa é minha sina

Dominar a Europa, espalhar aos ventos treva e ruína.




*Baseado no conto: “A máscara da morte rubra” 
de Edgar Allan Poe.

quarta-feira, junho 03, 2009

A dentista e o verme



A chuva batia na vidraça
E a jovem dentista sua jornada começava
Um verme pelo chão rastejava
Uma goteira pelo teto respingava

Um cliente no consultório adentrava...
Pele pálida, blusa molhada, boca reta arroxeada
Diante dos seus olhos, horror e repulsa, eram notórios!
Na insensatez permitia dentes pálidos, coberto pelo tártaro

Halitose, cáries, uma boca abandonada e a dentista...
Superava a timidez, administrava  a situação com engodo
Num instante, um sonho, um devaneio, uma ilusão
Imaginando que beijava aquela boca em podridão!

Abraçava-o, tocava os seus lábios com as mãos
Sentia êxtase, sentia nojo, não se aguentava, ardia em paixão!
Diante da ilusão cultivada... viu o verme...
Que se alinhava no jaleco estendido na bancada!

Um instante... Muita dor, viu gotas vermelhas escorrendo...
Acordou em sobressalto, tomada de terror!
Seu cliente observava sua ação como um mérito!
Como uma paisagem exterior, gotas de suor molhavam seu suéter.

Bater de dentes e tremor, a dentista, cambaleava pelo impacto
Caindo fez barulho, tornara-se ser inferior, acoado
Não aceitou o destino, questionou a profissão.
Abriu as portas e correu, a rua foi a solução!

O cliente a seguiu... A perseguiu e encontrou virando a esquina
Atrás de um carro e se virou para ela, nervos e músculos fizeram o trabalho
Pelas mãos do lacaio a pobre sucumbia naquela calçada fria
O verme de alma vazia rastejava sobre o jaleco que, no consultório, jazia
Enquanto as gotas que escorriam espalhavam o perdão de um crime a luz do dia!