quinta-feira, maio 09, 2013

O construtor de pirâmides




“The time to hesitate is through
No time to wallow in the mire
Try now we can only lose
And our love become a funeral pyre”
(Light my Fire: Robby Krieger, The Doors)



De que me vale construir pirâmides?
Se vago a esmo nessas terras áridas...
... Nessas terras áridas e inóspitas!
As mesmas terras em que o jovem faraó foi enterrado
Mumificado, idolatrado e, pelos seus súditos, consagrado

Aqui, só o leito do rio contém os nutrientes
E são necessários todos os esforços para preservar sua lápide
Extremamente necessário também é espalhar suas sementes
Para permitir a evolução de espécies raras...
... E em ritmo rápido curar os pobres doentes

Às margens do Sena, difícil é, dizimar pestes
Dormi num sonho e vivo um pesadelo no Oriente
Olho para o alto, em meio à tempestade de areia
Não há nada que me oriente... Nada!
Não há corpos celestes e nem estrelas cadentes

Nada, brevemente, porém... Sinto uma esperança, nada mais
Sou um navio sem cais, mas, em meio ao caos, volto a nascer
Dentro dessa banheira, sinto o amor novamente crescer
E, em Père-Lanchaise declaro que os amo...
... Amo todos os meus amigos, amo-os!Père-Lanchaise

Os que vieram, os que se foram e os que erraram comigo
Festejaremos a saída daqui?
Está tão apertado, tocar-nos-ão os órgãos?
Brancos e negros, juntos, como peças de um piano...
... Escaparemos de mais essa cilada?
Cilada, essa, que nós mesmos planejamos.



*A Ray Manzerek, John Densmore e Robbie Krieger.
*Père-Lanchaise 
Cemitério de Paris onde está enterrado o corpo de 
James Douglas Morrison (1943 - 1971).

sábado, abril 27, 2013

Medo de voar




“A campainha da casa do comissário Walter Moeding toca...
Declaro que, naquele dia, por volta das 12h15
Atirei em Werner Totges e o matei”
(“A honra perdida de Katharina Blum”, Heinrich Böll)


Paul Morel confessou todos os crimes...
... O delegado Fonseca acende um cigarro e respira fundo
Na capa do Bild, uma foto e parte da matéria que esclarece os fatos
Será levado à juri popular em alguns meses, pegará uns 40 anos, pensa...

... Numa cela fria do 14º, garfos de plástico, um velho colchão úmido
Não é como um lar, mas você sabe, será provisório, sem janela ou TV...
... Pouco melhor do que a penitenciária depois do julgamento
Quando o levaram embora, no camburão, Morel ria...

... E nos dizia: "Todos os filhos de Deus terão que morrer, tombar ao chão!"
Se eu sinto arrependimento pela morte de Erica Jong?   
Nenhuma delas, Katharina Blum, Ana Clara, Lorena e Lia!

Necessário, sem remorso, elas me feriram a honra, tive medo de voar, enfim...
... O poder das palavras, o desencadear dos fatos, plantões, manchetes de mortes e sumiços
Me tornei um serial killer e a mídia ainda precisa muito dos meus serviços!



*”O caso Morel” (1973) é um romance de Rubem Fonseca.
*”Medo de voar” (1973) é um romance de Erica Jong.
*Katharina Blum é personagem do romance “A honra perdida de Katharina Blum” (1974) do escritor Heinrich Böll.
*”Bild”, jornal alemão que perseguiu com uma campanha difamatória o escritor Heinrich Böll.
*Ana Clara, Lorena e Lia são personagens do livro “As meninas” (1973) de Lygia Fagundes Telles.

sexta-feira, março 01, 2013

Estação Maiakóvski




“Escritores há muitos. Juntem um milhar.
E ergamos em Nice um asilo para os críticos.
Vocês pensam que é mole viver a enxaguar
A nossa roupa branca nos artigos?”
(Vladimir Maiakóvski)




Os limpadores fizeram o trabalho, entre e sente-se, senhor
Obrigado, eles recebem para isso e é o que fazem de melhor?
Como você se sente, meu caro escritor?
Saiba que a inspeção do seu trabalho será semanal, acostume-se!


Eles estão se alinhando para revistar-lhe a bagagem
De mão, pobre do velho James, está branco como um fantasma
Ele não encontrou a resposta perdida nas entrelinhas que escreveu...
... Lamuriamos agora, prevaricaram sua arte, corromperam sua poesia


Não há nada que possamos fazer para resgatar sua obra?
O vagão “Oito” vai lotado da 30ª Edição destruída pelas traças
Estamos todos a bordo desse trem misterioso...
... Que vai para o reino dos escritores que ninguém leu


Fiquei apreensivo e preciso de algo para beber
Enquanto o trem, nem ao menos deixou a estação
Agora percebo o quanto fui tolo...
... Você reservou um assento ao seu lado


E eu fui me sentar na janela da imaginação
Me sentia aprisionado pela escrita, mas agora estou livre
Estou lá, pendurado na paisagem, consegue me ver?
Na hora da partida, entrego o bilhete e, ninguém irá me deter!


Quem fica, quem sai, quem senta, estamos a bordo, observando quem nele entra
No trem que vai para o reino dos escritores que ninguém leu
Outro apito, fiquei apreensivo e preciso de algo para beber


Você reservou um assento ao seu lado
E eu fui me sentar na janela da imaginação
Enquanto o trem, nem ao menos deixou a estação...









*A Vladimir Maiakóvski (1893 – 1930)

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

Um fotógrafo na França ocupada



"Fotografar é colocar na mesma linha de mira
A cabeça, o olho e o coração".
(Henry Cartier-Bresson)


Não dá para acreditar que vagamos por essa França arrasada
E ninguém nos convida para beber e nem comer nada
Estou faminta e você só quer tirar fotografias!
Como poderei sorrir, estando com tanta fome?


Há dias, erramos por essas estradas frias
Minha Leica captura paisagens e pessoas, não seus pensamentos, querida
Não tenho compreensão do que estamos fazendo, Henri!
É melhor nos apressarmos, vamos sair logo daqui...


... Estou com fome, Henri, vou lhe repetir
Quero bolo, café e um suco gelado
Pois, a sede também me desafia


Tive uma ideia, paramos numa cafeteria...
... Lavamos o rosto, as mãos e nos sentamos lado a lado
Eu peço um café com torradas e você o jornal do dia.



*A Henri Cartier-Bresson (22/08/1908 – 03/08/2004).

sábado, janeiro 05, 2013

A insônia da Morte




“Aqui vejo coisas que a mente humana jamais viu
Aqui sofro frio que o corpo humano jamais sentiu
É este o misterioso reino dos ciprestes”
(Vinícius de Moraes)



Não havia comiseração ou piedade
Atrás da máscara, não havia
Face, às cinco e meia...
... Madrugada, lua cheia que tardia


No horizonte, dormem crianças, lábios abertos
Olhos fechados, Vinícius também dorme
Corpos inertes, vestidos de branco
Enquanto dormem, só os pescadores


Acordaram cedo, tarde da noite
Tão tarde, o medo da morte, cedo
Ela, paciente, espia o mar


É a hora de lançar as redes
Rumar os barcos ao infinito e navegar
Ao profundo e misterioso reino das águas verdes.



*Baseado em “O cemitério na madrugada” de Vinícius de Moraes.

quarta-feira, dezembro 19, 2012

Como uma rosa para a rainha




Edward Lionheart está vivo?
Bem vivo e encenando Julius Cesar
Ah, como se não bastasse...
... Ele não se cansa de encenar Shakespeare


Um crítico sempre se irrita quando não há o que elogiar
No mundo deles, quando o sol se põe não há o que contemplar
Surge impávida, uma temerosa noite escura, nada mais
Sem dúvida, houve uma grande época de roteiros colossais


Épicos... Um uso corriqueiro de metáforas e analogias
Mostravam-nos claramente como se esforçavam para nos convencer
Poupar-lhe-ei o tempo, já vou lhe dizer
Fingirei que acredito em seu falso lamento


Acima da tampa, cobrir-lhe-ei com a terra fria dessa plaga
“E as asas da noite se estenderam por todo o terreno dos mortos”
Lembro-me bem... Era quinze de março de 1971
Quando Maxwell Rose subiu para o além


E, em meio à vida, a morte se fez
Das cinzas as cinzas, um dia...
Antes, ele brotou como uma árvore


E pela família e pela sociedade foi cortado, podado
Aparado, nascido da mulher vermelha não teve imunidade aos sofrimentos imputados
Desta forma, como uma rosa para a rainha, todos os seus espinhos foram-lhe desbastados.



*Homenagem a Vincent Price e Diana Rigg: 
“Theater of Blood” (1973) 
Direção: Douglas Hickox.

domingo, dezembro 09, 2012

Terça-feira, de rubi



"Goodbye, ruby tuesday
Who could hang a name on you?"
(The Rolling Stones)



Nunca questionei sua liberdade
E você, nunca me disse de onde veio
Mas, não me importa o ontem...
... Ou o crepúsculo que virá


Na terça-feira, a noite é sempre mais cintilante
Pois, é nela que usas o colar de rubi
O mesmo que lapidei teu nome
Só para lhe impressionar


Você é como o dia...
... Metamorfoseia-se com a noite
E meus gastos aumentaram, na medida 
Em que tornamo-nos mais íntimos


Mais uma entre tantas, não mais
Terça-feira de rubi, você foi capaz
Durante um ano, minha conta...
... Ah, minha conta bancária, já não existe mais




*Baseado em Ruby Tuesday (1967), The Rolling Stones.

quinta-feira, novembro 01, 2012

Dançando no escuro




“You can't start a fire
You can't start a fire without a spark
This gun's for hire
Even if we're just dancing in the dark”
(Dancing in the dark)




Meu irmão, meu sangue
Acabei de esvaziar minha taça de...
... Sangue
Sangue do meu sangue, e 


Nela, ainda flutuam pedras de gelo
Que subverteram o verdadeiro calor do
Seu sangue, nosso sangue
Por favor, meu irmão de...


... Sangue, passe-me o Jack Daniel’s
Dê-me, solte-a, está na mão
Vindo do Tenesse, a garrafa
Ouça-me, o telefone toca, ouça-o


Ouça o telefone tocar, irmão
Pode ser que seja...
... Outro pedido, sem nota
Abstenha-se de toda e qualquer informação


Sobre o sangue do
Assassino de aluguel, irmão
Fique onde está, eu estarei lhe olhando
Enviando-lhe outra mensagem, uma forma de interceptação


Da outra, da minha, com ela...
... Vinha, uma instrução
De como caminhar no escuro
Que me fez jurar ainda essa noite


Para ti então, Bruce eu juro, a esmo
Depois dessa constatação, eu juro que sairemos dessa
E poderemos no escuro, sem tropeçarmos...
... Dançarmos sozinhos, conosco mesmos.



*A Bruce Springsteeen


segunda-feira, outubro 08, 2012

Era dia de eleições




“Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight for a long time”

(The Beatles: Carry that weight)




Estou debaixo de uma onda gigante e não consigo respirar
Não venha agora, venha depois... Espere-me lá fora, pois
Nem você nem ninguém poderá me ver chorar diante desta
Desta tempestade com relâmpagos que me molha até encharcar


A roupa; cai-me uma avalanche de dúvidas, mas não sinto medo
Antes do sono, carregarei o peso... Trarei os santos para a celebração
Como um salmo, ouço Elis cantar Golden Slumbers¹ e me emociono
Depois do resultado eu te desafio a escolher entre...



Entre candidato, peça licença; sequei a última peça e preciso esquecer...
... Esquecer seu número fazendo exatamente o que você me pediu
Ontem, foi um dia de eleições e não pude confirmar o meu voto, mas...



... Você vai cumprir o que me prometeu e liderará com justiça?
Eleito, cantará louvores de campanha? Diga-me Rocca² seja realista!
Vista a faixa, vista-a e assuma seu mandato de poeta existencialista.




¹Elis Regina: Golden Slumber/Carry that weight (Ela, 1971)
²Marco Rocca, amigo, comparsa e parceiro de poesias no Recanto Das Letras.

segunda-feira, setembro 17, 2012

22 de novembro de 1963



Aos 69 anos, em seu último dia, Huxley escreveu à sua mulher:
LSD, 100 µg, intramuscular – “This Timeless Moment” em seu leito de morte
Uma dose as 11h45 e se não fosse o suficiente, outra depois...
... Ele se foi no fim daquela tarde de novembro em 1963


No mesmo dia, a morte do irlandês C. S. Lewis
E o assassinato de John F. Kennedy, marcaram o fatídico dia vinte e dois


Essa mórbida coincidência foi inspiração para Peter Kreeft criar um livro
As cinzas do escritor foram colocadas no jazigo da família
Cemitério de Watts, casa de Watts Mortuary Chapel
Em Compton, uma vila perto de Guilford.








*A Aldous Huxley (26/07/1894 – 22/11/1963)
*Homenagem aos ensaios: 
“Céu e Inferno” e 
"As portas da percepção" (1956) 

quinta-feira, agosto 23, 2012

O castelo de Mr. F.K.


"Era noite já
                                                                      Quando K. chegou."
                                                                   (O Castelo, F. Kafka)


Imersa entre neve, bruma e treva
A aldeia de Mr. F.K. permanecia lá, imutável
Sobre a ponte, a olhá-la se deteve
Por longos minutos absteve-se de adentrá-la

De rever suas ruas e o Castelo
Olhava para o vazio, procurava um albergue
Entregue, arrastou-se tarde da noite pelas fracas velas e
Surpreendeu o senhorio por ser hóspede tão tardio

Adormeceu... De súbito, o Criador lhe apareceu
Estremeceu diante do conhecedor das faltas
Pôs preço aos seus pecados requintados
Eis aqui, um drama Kafkaniano bem delineado

Repete-se a trama, contingência
Pecado e tentação, sua herança
Conflito de personagens
Remete-se ao homem, a demência

Suprema, do Criador em ação
Recriar-se, da Criação, a imagem
Comparado à grandeza perdida
Aos mistérios distorcidos

Em instantes, encontra sua função no mundo
Pai, mãe e amantes vencidos
Frustrações inconstantes flamejantes
Amor, ética da religião e bons costumes; febris e delirantes

Arrebatando-lhe do estilo pagão e cético
Sucumbindo diante dos seus nobres ideais
Lei imutável da vida e da morte, és novo Édipo   
Em 1922, lia para os amigos em congruência

As notícias dos jornais sem muita insistência
Foram fatais, os sonhos que ocultaram a existência
E, se permitia no Castelo de Franz Kafka
O roteiro do estupendo espetáculo de clemência



*Baseado em: O Castelo (1926) de Franz Kafka.

segunda-feira, julho 02, 2012

O prêmio menor


“Ah, isso me faz amar-te mais e mais”
(Núbia Poison)



Em seu quarto, mergulho confiante na escuridão
Nela, não sinto medo e você me chama de “o servo favorito”
Que sabe como amarrotar os seus lençóis
Que perde a cabeça entre suas coxas macias


E, coberto de regalias, faço...
Da inocência, um prêmio e de joelhos me apóio numa promessa
Para levantá-lo; e erguer o prêmio menor sobre a cabeça
Tão leve, quebro o espelho e tento, nele, me reconstruir


Um caco, um toque, uma respiração, um suspiro
Sinta o calor... Sente-me? Toque-me!
Seus braços queimam-me, seus olhos estão flamejando
Nosso tempo acabando, por causa dos erros, dos desaforos, das mentiras


Elas ainda pairam por aqui, veja-as...
... Nesse ponto, no seu local preferido
Seu reflexo, meu reflexo refletido em nossa pele
A força das palavras nos ferindo


Elas pingam como suor, escorrem pelas frestas
Na hora do chá você se aproximou...
... E me mostrou outra tatuagem
Eram dois cavalos negros conduzindo uma bela carruagem


O que esse desenho significa para mim?
Para você, nos encontraremos as 15h00, amanhã?
Traga-me frutas, morangos, uvas, castanhas e maçãs


E gostaria que, novamente, os lençóis fossem trocados
A cada encontro, novos, limpos, preparados
O cheiro dos lençóis limpos deixa-me, ainda mais, por ti, apaixonado



*Baseado em “In your room” canção do Depeche Mode.
*A Dave Gahan.

sábado, junho 02, 2012

A mão que escreve

Essa é minha maldição
Escrevo textos para outrem
Dou, a sua persona, toda a convicção
A sabedoria, o discernimento, as palavras certas e muita ação
Interfiro na realidade; cedo ao homem à capacidade de criação
De ser menos medíocre abandonando os próprios argumentos
Um velho estadista foi criar em um dia escuro, às vésperas
Da posse do céu, faltou-lhe as palavras, caiu-lhe o véu
...Certo como a noite ficou rubra num clarão
Um "Ghost writer", então lhe surgiu como vespa, pois não
Para domar e sugar rebanhos de olhos vermelhos numa premonição
Uma atividade óculo-manual sob encomenda, canetas e folhas ásperas otimizam
a tração
Da nuvem ilusória que é convencer e dar razão
Cavalheiros, editores e escritores fantasmas brindarão
O nascimento do mais novo best seller
Suas tiragens ainda estavam em fogo brando e já culminam no topo das listas dos mais vendidos
Seus argumentos eram feitos de outras experiências
Ambivalências, axiomas; como interpretar todos esses relatos perdidos?
Suas penas eram pretas e brilhantes e sua respiração ofegante
Só um Prêmio Nobel de literatura poderia senti-la nesse instante
Um relâmpago de medo atravessou a capa dura
Enquanto trovejou através do céu da editora
Os pingos molharam aquelas páginas, por ele, escritas
Ele viu e não acenou aos cavalheiros que vinham em busca de dedicatórias
Não os assinava e nem os dedicava, resignava
Dolorosamente emitiu gritos de tristeza vendo a fila aumentar satisfeita
Os louros da fama, o reconhecimento e a glória nunca serão dele
Sua cara de desolação, suas olheiras, sua camisa encharcada de suor, são...
... As marcas que impedem-no de alcançar o sucesso
Porque começarão uma nova história, doutro rosto
Que para sempre terá um nível acima do céu, novo desgosto
Nos depoimentos artificiais da descoberta do fogo e da invenção da roda
Ele o induz à organização de capítulos com lamentos programados
Enquanto os ávidos por leituras e os bibliômanos galopam
Galopam ao sol e jogam polo sobre lindos cavalos ébanos
Ouviu-se um chamado, era seu nome, quem o encontrará em meio a multidão?
Um conselho para ti...
... Se você quiser
Conservar sua alma livre do inferno
Abandone essa feira internacional do livro em Parati
Dê uma conclusão razoável para a obra encomendada, sare os feridos
Mude suas maneiras de ser o melhor "Gost-writer" da editora mais famosa do país
Ou conosco você retornará para tentar cativar outros rebanhos
Apagará linha por linha e me fará  novos capítulos à sombra de um lider de vendagens infeliz e incapaz de amar como os humanos.





*Eu sou um gost-writer de mim mesmo.

sábado, maio 05, 2012

Eu, sob meu domínio


“O que o ser humano mais aspira
É tornar-se ser humano”
(Clarice Lispector)



Eu, Clarice, lembro-me
Como se fosse um desvio
O encontro que tive
Com Sartre, em janeiro, no Rio


Disse-me o filósofo:
“O horror sou eu, diante das coisas”


Seu olhar me perturbava, enquanto falava
Desconfortava-me o cachimbo
Sentia-me escrava do anteontem
Um espectro disforme no limbo


Quando virá a alforria?
Depois do crepúsculo, raso e impassível?
Diante da alvorada nova jornada se inicia
Organizando-me entre frases, sendo hermética e acessível


De súbito, meu corpo torna-se uma extensão dos sentidos
Alcanço o espaço e aumento minha capacidade
Sequencia desordenada numa dimensão em superfície
Com sinceridade, falo da vista, sou uma artífice


Ah, a dor...
... Emana
Diariamente após as 17h00, emana
A dor do apontamento


Sou humana, não quero ser manuseada
Antes, como um lápis apontado
Descobriram minha essência delicada
Essência das cores que possuo, meu legado


Era planta baixa desenhada pelas próprias mãos
Reconstruí-me entre linhas retas e paralelas
Traços na superfície horizontal edificada tornaram-se constelação
Mãos corretas, faixas grafitadas cobrem minhas janelas
... Morro em vão?



*A Clarice Lispector e Jean Paul Sartre.