quarta-feira, dezembro 22, 2010

Sei que seu mundo está ruindo





Faz um calor infernal e tenho cãibras na perna esquerda
Ah, essas cãibras... Um dia me mato por causa delas
O bruxismo me corrói e estou encharcado de café e Fausto Wolff
Porque um sonho nunca é só um sonho, nem um livro é só um livro?
Porque tive que descobrir toda a verdade da vida naquele romance de 1978?





Mataram o cantor e chamaram um garçom...
E ele se aproxima da mesa, no colarinho uma borboleta preta
Espero que uma overdose de potássio venha aliviar todo esse desespero
Viro para ele e peço sem cerimônias: Uma cachaça e outra cerveja!
Nada é-nos eterno, muito menos as câimbras e tão pouco meu pedido efêmero





Só aquele olhar vazio do garçom nunca mais sairá dos meus pensamentos
Vou mergulhar nas profundezas e beijar a boca do meu medo
Sei que sou capaz, apesar da escuridão, irei tateando para encontrar
Encontrar o rosto do meu medo e apertar-lhe o pescoço
Isso é o que me traz esperança, alivia-me o desgosto





A próxima contração virá...
... Ainda mais forte que a anterior?
Quebrar-me-á os ossos?
Senhor... Ajude-me!
Precisas saber o meu nome, de onde eu vim, quais charutos aprecio?





Nada disso... Só preciso manter a calma
Uma calma interior de quem se aperfeiçoou em caçar borboletas
Sim, um caçador com alma de diretor de cinema...
... Mas não busco borboletas, estou fora de cena
Não sou como Kubrick, sou um apostador de roletas





Estou de olhos bem abertos
Dê-me um sedativo, esvazie a garrafa e depois me mande embora!
Sinto a presença do anjo e penso na morte
Quando percebo o anjo sei que ela está por perto
Então, vou celebrar a existência levantando o meu copo





Por quanto tempo poderei celebrar?
A chegada do verão, o aumento da temperatura, a qualidade da cerveja...
Nesse boteco de esquina que não vende tintos secos
A cerveja e Schopenhauer são minhas únicas soluções
Soluções que me fizeram descobrir que jogava o jogo de maneira equivocada





Besuntado em suor e precisando de um banho, celebro os limites da natureza
Pois, com certeza... Ah, pobre garçom de olhar vazio!
Noutro dia, o inverno irá recomeçar
Não me importa se é sincero ou está mentindo
Sei que seu mundo está ruindo
E, pelas fissuras a água irá penetrar
Em verdade lhe digo:
Quando estiver afogando, ainda sim estarei a lhe admirar.





*Homenagem a Fausto Wolff
pseudônimo de Faustin von Wolffenbüttel, 
Santo Ângelo, 08/07/1940 — 
Rio de Janeiro, 05/09/2008. 
Jornalista e um dos meus escritores preferidos.

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