"Eu me obriguei a me contradizer"
(Marcel Duchamp)
Há muita coisa a fazer e eu não me vendi ainda
Não foi como você imaginou ou pensou que seria
Os vazamentos estão por toda parte e a pilha de lixo aumenta
Dizer que não tentamos é muito cruel da sua parte
Sinto muito... Muito mesmo
E, lá fora, a pilha de lixo só aumenta...
... O relógio marca vinte e três
Mas, sabemos que não passa das dez
Estamos remando em círculos nesse bote salva-vidas
É como aprender outro idioma na completa escuridão, das palavras
E ela me lê, ela pode ler minhas rugas e provar o sal de minha pele
Ah não, ela me conhece demais agora e distingue facilmente as minhas pegadas
No tempo em que passamos à deriva lhe disse tudo sobre mim
Tudo, tudo mesmo, até sobre os desejos vencidos dentro da geladeira
Vamos combinar uma coisa, senhorita Rrose Selavy?
Hoje à noite, ninguém dorme e você terá tempo de me contar sobre sua vida
Sua partida, quando foi a sua chegada... Aonde nos encontramos?
Subiremos a escada que nos levará ao quarto do colecionador Marcel Duchamp
Para juntos catalogarmos as espécies de abutres empalhados
E isso, poderá levar um bom tempo...
Olho pela janela e percebo que não estamos sozinhos aqui
Todas as pessoas que você amou em forma de autorretratos
Estão lá fora ao relento, transtornados
Amor, é a vida! – Você diz sussurrando-me
Imagem trágica, tarde; porque todos eles estão espirrando?
E descubro que, na pilha de lixo, há muitos abutres empalhados apodrecidos
*A Marcel Duchamp: 28/07/1887 – 02/10/1968
*Título extraído da canção: “Leif Erikson” da banda nova-iorquina Interpol
*Rrose Selavy foi um pseudônimo do artista Marcel Duchamp
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