Não caminho sobre as águas
Caminho dentro delas
Opondo-me à sua resistência
Em desafio, transformando o ato de adentrar
Num rompimento leviano da quebra do paradigma
Percebendo que me conheço menos a cada dia
Faço um gesto, as mãos em concha
Bebo-te em grandes goles com consciência
Somos um e estou igual em mim mesmo
A mesma substância etérea nos compõe
Não me falta mais nada agora, nem prudência
Por dentro efervescência, por fora, displicência
Não necessito do teu frio, somos iguais em frigidez
Como um camponês, busco o conforto dos verdes campos
Nesse oceano sou só mais um entre tantos
Transbordo-me de felicidade, mas mantenho-me sério
Esse rito me fadiga, traz-me questionamentos existencialistas
Olho para trás, não vejo rastro
Ficou a chegada
Apenas na areia, à margem
Como uma virgem, sem sofreguidão
Retorno sabendo que o teria quando bem quisesse
Não precisava mais prová-lo, nem tentá-lo e é isso que me ensoberbece.
*Baseado no conto: “As águas do mundo”
de Clarice Lispector.
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