quarta-feira, setembro 09, 2009

Hepitáfio, o barqueiro



I

Para se sentir grande exagerava como o rio
Moroso, em direção ao mar...
Lembra-te quando ao meu lado se sentavas?
Soltavas minha mão nua e descansava sob a lua
Tocávamos o chão e víamos o rio...
Passar lentamente, silencioso e profundo
Para cada lua um lago a refleti-la
Uma praça colorida, outra rua...
Aonde íamos? 
Vagamente, me recordo
Quando gozávamos em alarido
Cobríamos-nos de folhas, coroava-te com rosas
Achavas-me destemido!


II
Naquela travessia tênue, Hepitáfio era o condutor
Silencioso como o grande rio, só contemplava o nosso amor
Pela razão nos servia, cedia-nos sua embarcação
Desvie-nos dos pântanos, conduza-nos às vinícolas
Acalente nossos prantos, faça-nos esquecer da vida!
Beber várias taças de nosso vinho preferido
Na batalha final derradeira e mortal
Fostes heroína!
Adeus querida Matilde sucumbiste sem fraquejar!
Sempre serás minha, minha intrépida menina 
Denodada a ousar, quantos anjos ainda irá fascinar?

III

Nas brumas celestes encontraste conforto?
Onde dormes? Estás à beira da piscina?
Agasalhaste seu espírito sob o linho nobre?
Ou retornaste a terra?
Nisso nunca acreditaste, nem eu pude acreditar
Nossa doutrina era falha!
Não te quero acima de Prometheu...
Nem abaixo, nem maior e nem menor do que eu
Do que outros novos deuses de cobre!
Fico com as melhores memórias...
De nossa vida incerta repleta de joios e glórias!


IV

Nutra a triste terra que espera a semente
Pacientemente, conheça o Olimpo novamente
Certamente, percebi um choro vaporoso
Ardente, temeroso, lágrima quente
Não toca o solo, Hepitáfio consolador dos descontentes
Outras plateias o verão no cadafalso, sorridentes
Subterfúgio, digressão; por opção vive na mais profunda solidão
Abro os olhos e deixo um recado aos que, em breve, partirão...
Vai-se a matéria... Ficam as idéias como forma de consolação!
Consolação d'alma, nossas almas, das almas que, para sempre às margens do rio, ficarão.






                                        

 *Baseado em textos de Fernando Pessoa. 
         R.I.P. Matilde "Mother" James.

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