quarta-feira, setembro 02, 2009

Missiva de uma separação angustiante



...05 de janeiro de 2001





Olá, estimado amigo S.O.
Espero que, na busca incessante, tenha encontrado o equilíbrio cósmico que tanto almejas.
Em relação à sua missiva, não entendi quando afirmas:
"...Não deixe rancores tolos corroerem nossa amizade!"


O que significa isso?
Quais rancores tem a capacidade de deteriorar nossa amizade, estima e consideração recíproca?
Será que algum sentimento escapaste de minha gaiola e voaste até ti?
Não creio, ela está trancafiada com a senha da benevolência, da maturidade e da compreensão.
Nunca vou lhe pedir mais do possa ser capaz, isso eu tenho a certeza, pois essa afirmação vale para todos que me circundam.
Tu és amigo de grande valia, pessoa de apreço, conivências e convivências plenas.
Somos padrinhos mútuos das uniões nas quais nos propusemos a viver.
E isso para mim tem grande significado e importância.


Naquelas tardes, o que me afligia era familiar, já que nossa banda, os Retinas Queimadas, hoje se transformara em minha única família.
Era a questão do C.J., nosso brother e comparsa de todas ocasiões, na iminência da solidão, do abandono iminente.
O sal da separação a arder em seus lábios.
A dúvida da incerteza a corroer suas entranhas.
Aquela ausência incômoda da pessoa que incomodava, mas convivia; existia, fazia acontecer e às vezes não acontecia: a esposa companheira em seus últimos dias sob o mesmo teto.
A amada que recebia o sêmen do seu homem há tempos, hoje se perde no horizonte da incerteza no tempo futuro.
O que acontecerá a ambos?
Não sabemos, por enquanto...


Naqueles dias de bebedeira, boa conversa e rock ‘n roll intenso o que me afligia eram essas questões.
Sinto-me na necessidade compulsória de ajudar, formar uma opinião, traçar um norte, planejar as ações, tudo o que possa interferir diretamente na boa solução do impasse.
Será que estou correto?
Ou devo-me calar e furtar-lhe a ajuda amiga?
Você participou, vivenciou e presenciou todo o tema que narro e, de certa forma, opinou enfaticamente na tentativa de reconciliação e mudanças de paradigmas, assim como eu.
Mas não sabemos se isso realmente acontecerá.
Creio ser certa essa separação.


Será que temos a capacidade de mudar ou manter os rumos das vidas das pessoas que amamos e sentimo-nos no direito pleno de cuidar delas, de seus destinos.
Dar-lhes "conforto fraterno" no longo inverno da solidão?
Sei que tudo se regulará com a inexorabilidade do tempo.
Tempo presente.


Ou será que Mario Quintana tinha razão:


“É sem razão, e é sem merecimento,
Que a gente a sorte maldiz:
Quanto a mim, sempre odiei o sofrimento,
Mas nunca soube ser feliz”


Quero acreditar que sairá vencedor.
Nas intempéries surpreendentes dos mares, surgem os verdadeiros capitães.
Uma crise serve para separar imaturos aventureiros dos adultos com capacidade suficiente para discernir sob pressão.
Discernir e concluir, bem ou mal, bom ou ruim, é a vida dele que toma rumos diferentes a partir da decisão tomada.
E, numa fagulha de júbilo, se regozijar plenamente?


Sei que há muitas fãs e tietes, temos belas roadies ao nosso redor.
E elas, por sorte, tentarão preencher-lhe essa lacuna.
C.J. é sábio, apenas observaremos...
Creio ser o melhor a fazer agora.
Aposto que, enquanto todos calculam, ele obterá o resultado depois.
Que o tempo nos mostre então, qual o próximo capítulo das nossas vidas virtuais.


Abç.
Os dias são duros e amanhã temos ensaio.



“...Muito bem disse Cândido, mas é preciso continuar cultivando o nosso jardim”.
(Cândido ou 'O Otimismo': Voltaire).







L.J.Jr

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