sábado, abril 10, 2010

O maravilhoso e estranho sonho de Alice


Aqui estou estudando, que tolice
Sou Alice, deitada em meu jardim
Debaixo de uma grande sombra
Inebriada pelo cheiro de jasmim


Lendo sem compreender:
“Os Princípios do Cálculo Lógico”
Aberto na página cinquenta
Percebo uma cena que me deixa desatenta


Parecia-me, ao longe, um coelho branco
Mas tinha casaco, relógio e sabia as horas
Elegantemente trajado para o ritual britânico
“Estou atrasado, estou atrasado”; corria e berrava em pânico


Então, segui uma fumaça e me atinei com o que vi
Era uma lagarta azul ou talvez uma centopéia
Com o seu ‘narguilé’ , fatiando um baralho, induzindo a platéia
Dando as cartas e indagando-me depois de um trago:


Quem é você, jovem plebéia?
Que pena, eu já não sei mais responder, estão confusas as idéias
Acho que não sou mais eu
Estou minúscula e não me lembro do que aconteceu


Não entendi, disse-me o artrópode
Era enorme e da classe dos quilópodes
Dirigindo-se a mim, com os olhos vermelhos acrescentou:
Vou lhe contar tudo o que sei sobre esse jardim; e bafejou...


Curvando-se para frente, me logrou veemente:
Eu não sei nada sobre o jardim, estou confuso, isso sim
Mas, de uma coisa não me esqueço, vou lhe falar
Se o cogumelo comer, seu tamanho irá modificar


A cada mordida, perceberá
Poderá encolher e se destrambelhar
Ou então crescer demais e gigantesca, tropeçar
Depois disto, foi-se embora sorridente a rastejar


...


Duquesa traga-me a pimenta!
Mais pimenta, mais pimenta, mais pimenta!
Cale-se! Desapareça do meu caminho!
Não vê que tento, em vão
Adormecer meu bebezinho?
O gato da casa observava tudo...
Parecia demente, mas sabia dialogar
Era charmoso, e o meu destino iria profetizar


...


Alice, o chapeleiro muito doido mora para lá
E, nesse momento, deve estar tomando seu chá
A lebre maluca habita do outro lado
Ninguém poderá lhe ajudar nesse lugar malfadado


E avisando-me isso, fez-se desintegrado
Para que lado fica o meu jardim? Deste, ou daquele lado?
Terei eu mesma que descobrir o meu rumo!
Porque só respiro enquanto durmo?


De novo o gato disse-me por sua enorme boca:
Seja louca, nunca curiosa!
Sorrateiro, cantando e balançando sua cauda, deixou-me nervosa:
As gatas que morrem são as que querem saber os segredos alheios


Que horas são nesse lugar, porque não giram os ponteiros?
Porque esse coelho não para de falar?
Não podes deter a ação do tempo...
Só poderá matá-lo e nunca mais sair desse lugar


Aqui há muitas dimensões
E o meu corpo e membros já perderam as originais proporções
Vamos, novamente é a hora do chá
Sente-se e confie-nos; nossos melhores ensejos iremos lhe ofertar


...

Essas cartas de baralho são estranhas e
Sobre escadas, tingem de vermelho as enormes castanhas
Pintam as folhas, as pedras, os peixes, as floradas, insetos e as aranhas
São as ordens da Rainha: Cortar-lhes a cabeça e todas as entranhas


Eu sou o Rei e lhe convido, jovem forasteira
Escolha seu flamingo, eles deixam o jogo mais interessante
Chegaste confiante e agora, aproveite meu convite
Nesse instante, prepare-se para uma partida de Cricket delirante


...


Quanta desobediência para uma jovem menina!
Abandonaste o jogo e insultaste nossa rainha!
Raptaste o bebê, comeste a torta e destruíste a chaminé
Por fim, quase me esmagou com seu enorme pé


Veredicto em contrafé:
Cortem sua cabeça!
Cortem sua cabeça!
Cortem sua cabeça!


Calem-se!
Já está decidido!
Abrirei meus olhos e despertarei
Sei que estou delirando
Peguei no sono e acabei sonhando
Fecho meu livro e as fórmulas vou recapitulando
É melhor voltar para casa
Pois o dia está terminando.




*Baseado em: 
“Alice no país das maravilhas”, ficção de Lewis Caroll
(27/01/1832 - 14/01/1898).

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