terça-feira, junho 15, 2010

A beira do abismo





Durma comigo, à beira do abismo
Sem cinismos trago-lhe a maré
Tenha fé, às margens do túmulo preparado
Por mim; quebrados foram os sacros objetos


Antes, faça deles uso profano, enfim...
Entre excrementos e dejetos, ervas e enganos
Galhos, árvores vivas, mas secas; não há definidas estações
Extinguiu-se o Sol desse hemisfério e os verões; mistério?


A Lua está morta, órbitas insanas; constatações
Nuvens se desintegraram entre fumaças negras
Fome que mata e mata aos poucos, estabelece-se a verdade
Cidades que se odeiam e criam porcos em varas, por vaidade


Nos jardins do poder cultivam-se ambições psicóticas; dissociadas searas
Terras secas, rios turvos e disciplinantes raivas
Afrouxam-lhes os dentes, lhes inflamam as gengivas
Extinguem-se as assembléias por dispersão dos membros


Corrupção, depravação e devassidão, açucares e cáries
Corpos de inimigos e hostes tornam-se poeira na desoladora paisagem
Enquanto as almas ardem nas chamas das fogueiras
Espectros surgem arrastando-os para a beira...
Do abismo que dormimos juntos, à margem.

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