Março, 20/1596, Trento
Cara Cecília, espero que saibas ler, pois nunca mais vais me ver.
Um perfeito cavalheiro nasce com estirpe honrosa
Interpreta Giordano Bruno, põe-se a prova
Tem aulas de dança e esgrima, ascensão gloriosa
Frequenta salões da alta sociedade
Discute com críticos e filosofa
Exprime sagacidade em verso e prosa
Querida Cecília somos díspares, somos únicos, heterogêneos socialmente
Não lamente, fostes gerada por moribundos
O que nos ocorreu deixou-nos imundos
Peça perdão, auxilie os católicos e busque um convento
Vou para a Trácia, combater inimigos no pior dos mundos
Ajude os necessitados, cure os desvalidos da Província de Trento
Esqueça-me, me negligencie, mude de idéia
Nossa vontade não é individual, eu lamento meu amor
Essa força da paixão entorpeceu-nos, trouxe-me crônica cefaléia
Sou um nobre, és plebéia e estivemos envolvidos numa efêmera sensação de libido e fervor
Não houve nada lógico em nenhuma ocasião, faço questão de ressaltar
Pecadores somos e seremos mais profanos ainda se cultivarmos mútuo rancor
Se levássemos nosso plano a risca, meu comando, minha família e amigos opor-se-iam
Como hipócrita, sem pudor, tentei enganar os meus queridos pais
Dizendo-lhes mentiras, escondendo-lhes nossos sinais
Adeus, Cecília Cimarosa
Quando ler essa missiva, não adianta correr
Não se culpe nem a mim, não pude escolher
Estarei de partida e já fui para o cais desde o amanhecer.
*Carta escrita por Dino Melchiade a Cecília Cimarosa, em 1596 durante um período de grande censura do Vaticano sobre os cientistas da época.
*Homenagem a Giordano Bruno morto pela Igreja em 1600, seguido do julgamento de Galileo Galilei em 1616. Esses fatos geraram um abismo de desconfiança entre os estudos científicos e astronômicos e a religião católica.
*Missiva encontrada e traduzida por Núbia Poison, repórter das Publicações Retinas News em trabalhos arqueológicos no norte da Itália.
*Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
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