quarta-feira, março 10, 2010

Entrevista poética com Adoniran Barbosa (Da maloca vinha o samba)




“Sou um cara triste, faço piada, mas é só por fora.”
(Adoniran Barbosa)





Dá licença de contar...
O mais ‘punk’ dos sambistas, um fumante inveterado
Sou a repórter Núbia Poison e esse é meu entrevistado
Sem data de nascimento definida, mas com destino bem traçado
Falo de Adoniran Barbosa e eram dois maços por dia
“Nunca comprados, sempre filados”, como ele insistia


Na Cidade Ademar, com Mathilde e seus cachorros
Construiu sua parada, teto baixo, varanda e quintal
Em ‘Jaçanã’, não havia morada, só direito autoral
Sempre irônico, explicou-me a ‘questã’:
Desse bairro me veio a rima com ‘manhã’


Não é fácil escrever errado as letras de meus sambas
Isso tem que parecer real, convencer o intérprete e o ouvinte
Preste atenção menina, ouça o seguinte:
Se não sabes concatenar e nem o público convencer
Só aplauda, pois a eles não terás nada a dizer


Também conto causos e aqui vai mais um
Igual a esse, nunca ouvi nenhum
Pedi um taxi e pelo trajeto ouvia no rádio, bem naquela estação
Os ‘Demônios da Garoa’ interpretando minha canção
E na frente, um motorista confuso com minha informação...


Ao invés do estúdio, anunciou-me manobrando:
Chegamos ao Hotel Eldorado!
E foi logo estacionando
Desci do carro, sem bagagem e desolado
Chamei então, o porteiro num verso sagaz
Meu rapaz, hoje minha mala será aquela enorme lata de lixo, olhe para a sarjeta
E sorrindo-me absteve-se da gorjeta.


*Entrevista concedida a repórter Núbia Poison no Hotel San Juan na Rua Aurora em São Paulo.
*Adoniran Barbosa: Sambista que nasceu em Valinhos, interior de São Paulo em data imprecisa e faleceu em São Paulo, Capital em 23 de novembro de 1982.
*Núbia Poison, integrante virtual e roadie dos Retinas Queimadas é jornalista das publicações Retinas News.

*Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

*Fonte: Mugnaini Jr, Ayrton: "Adoniran – Dá licença de contar..." Editora 34, 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário