Todos os seus atos eram mecânicos
Mas, seu espírito...
Parecia ter vindo de um bosque
Emergia da escuridão do quarto dos fundos
E iniciava as tarefas da casa
Dia-a-dia limpando meu universo imundo
No rosto, carregava traços do tempo
Na boca reta, suspiros de esperanças métricas
Ah, como era-me estranho vê-la comendo frutas cítricas
Mastigação ofegante, chupava-as fazendo barulho
Aquela dentição brilhante sempre à mostra
Espanando e cantarolando suas cantigas de roça
Às vezes, subtraia valores deixados ao esquecimento
Nutria-se de forte crença e discretamente presenteava sua mãe
Com gêneros perecíveis de minha despensa.
*Baseado em: “A criada”,
conto de Clarice Lispector.
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