quinta-feira, maio 20, 2010

A paranóia de Roberto Piva


Talvez fosse 1963
E eu, ao acordar, esqueci qual era essa cidade
Qual o nome de suas madrugadas?
De onde vinham tantas precariedades?
Via anjos, chamava-os, mas eram surdos
E, dos seus ouvidos, escorriam lágrimas
Absurdo?
Crianças de tranças vendendo chicletes
Isso sim é contrário à razão
E, porque não
Verei borboletas depois da descarga
Ou um cemitério em festa
A queima de orfanatos
Enfeitados de fotografias coloridas
Fragmentos dessa hemorróida gótica
Enfiarei minha cabeça no aquário fundo
E celebrarei em meio às criaturas exóticas
Cérebros e telhados desse urbano submundo.




*A Roberto Piva: (25/09/1937), é um poeta brasileiro acometido pelo Mal de Parkinson.
Sua obra possui influência da Geração Beat americana e é um dos precursores brasileiros da poesia experimental e onírica.

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