segunda-feira, agosto 24, 2009

Quando um descendente de escravos se encontra com a Kukluxklan pelas ruas de New Orleans, ouve-se um blues na madrugada






Bourbon Street, New Orleans.
Faço a colheita das maçãs e penso em minha existência nessas terras de tormentas.
Nasci aqui, mas sou estrangeiro.
Alma estrangeira.
Em meio a essas plantações de algodão cresci e morri, várias vezes ao dia.
Não se vive muito por essas terras avermelhadas.
Passo os dias a espera de minha vez.
Mas, pode-se encontrar uma companheira de quadris largos por aqui.

Enquanto ando, percebo um tornado que se aproxima.
Mais um entre tantos.
O vento bate cada vez mais forte em meu rosto e seca meu suor rapidamente.
Preferia esperar perto do fogo...
Acender a lareira, cantar um lamento.
É como se o paraíso se perdesse durante a noite, e tenho desde a chegada de meus antepassados, acordado no inferno.
Assim como Prometheu sinto profunda dor quando a noite escura se faz infinita.
Mas nunca desafiei Deus, sempre temi o sofrimento eterno.
Prudência.
Tal qual, a auto-afirmação da alma.
Sigo os mandamentos.
Não cobiço o que não posso ter.
Não matarei semelhante ser e não roubo o que não consigo carregar por baixo da vestimenta.

Honro meu pai e minha mãe.
E já não estão mais aqui, graças a divina providência.
Tenho para perder e perco constantemente, num ciclo infinito dentro de minha existência terrena.
Um blues ao violão percorre o ambiente, preenche as ruas.
Consigo senti-lo em minhas entranhas.
Estou na Bourbon Street agora, jazz e blues são a trilha sonora dessa caminhada.
Preciso ir rapidamente ao mercado, antes que...
Os versos da canção lamentam:

“Perdi a liberdade
Vim de longe... Outra nação
Tenho mãos calejadas
Pelas “panhãs” de algodão...

Assim como meus avós e os pais deles, carregarei meu pranto, minha queixa por toda a vida, caro bluesman.
O meu livre arbítrio veio para confundir tudo e deixar minha existência um pouco mais pesada.
E esse fardo, distribuí aos filhos com equidade.
Bravos antepassados, nos porões das caravelas, entre ratos, pulgas e baratas, apenas respiravam e se lamentavam.
Não sabiam nem qual chão iriam pisar.
Mas, foram eles quem escolheram isso?
Estava escrito na canção?
Usaram seus métodos de decisão e determinaram meus modos de vida.
Faço parte dos negócios?
Creio que sim.
Sou, no mínimo, um efeito colateral dele.

Viemos parar na Luisiana depois de ter a ascendência quase extinta no gigante Atlântico.
E assim uma cultura francófona, indo do idioma à culinária aflorou.
Hoje a cidade respira cultura, ritmos e pluralidade de manifestações artísticas.
E o sal de nosso trabalho tempera essas inspirações.
Saudade corrosiva, adeus minha tribo, adeus minha caça.
Só ostento a raça.
Acertei decisões somente em fragmentos momentâneos e, na capela clamamos ao Senhor pelo perdão d’ alma.
Quando sair daqui, poderei descansar?
Aleatoriamente cumpro funções e sei que não há como escapar.

Será que meus descendentes entenderão isso?
Nunca!
Conto-lhes histórias, histórias de caçadas infalíveis.
Como nossos arcos e lanças eram precisos.
Meus ancestrais gabavam-se de voltarem sempre abastecidos.
Quando criança me disseram que tinha sangue nobre... Me senti diferente.
Saíamos entre irmãos e deixávamos sorrisos esperançosos entre crianças e anciãos.
Mas nessas terras franco-americanas de nada nos servem nossas destrezas.
As habilidades devem ser outras.
Nessas plagas usa-se chicote e pólvora.

Em 1699 as possessões francesas na América do Norte expandiram-se ainda mais com a fundação da Loisiana, perto do delta do Rio Mississipi, fundaram New Orleans em 1718.
E hoje, percorro essas ruas e tento fazer a conexão: passado, presente...
O futuro, não é necessário estabelecer.
Os brancos fazem isso por mim.
De onde viemos e onde cheguei?
O sangue da minha familia levantou esses muros, mesmo que seus desejos fossem completamente diferentes.
Não havia escolha.
Extirpou-se o livre arbítrio deles.
E essa herança, carrego comigo.
Usaram-no erroneamente, pensando corretamente fazê-lo.

Naquele dia se afastaram muito, na ambição da captura.
Tudo se inverteu.
Tornaram-se a caça, não sabiam.
Vendidos foram e aqui chegaram.
Terra de franceses, mas estavam na América, não eram nativos.
Sabidos, traziam o progresso, somos "créole”, esse é o termo, nossa designação.
Centenas de dúzias de conterrâneos sucumbiram e, lançados foram entre tantos outros.
Inundaram o oceano com nossos sangues quentes, tão vermelhos quanto dos senhores brancos.
Nossos dentes sempre foram mais bonitos.
Nunca sangramos pela gengiva.
Agora, um sinal de fraqueza?
O que importa é que, esses fragmentos curtos, todavia imprescindíveis me colocaram aqui.
Deveria ser guerreiro africano, hoje, escravo livre na América.
- O que fazer com minhas vicissitudes agora?
Hábitos nocivos, disposição contumaz à degradação?
Morrer de trabalhar... Ou se entregar?
Quem sabe fugir para as Antilhas, mas os barcos são mais frágeis do que eu.
As lágrimas dos afogados salgam esse mar todos os dias, tentativas frustradas sucessivas.

A resignação diante do fato só ocorre depois, sempre depois.
Liberdade de degradar-se por si mesmo?
Creio que não.
Não sou eu o dono de minha vida.
Os brancos a degradam por mim com voracidade.
Não quero destilados.
A lucidez é minha maior alucinação.
Não está acontecendo?
Quando acordar em minha aldeia irei estar sorrindo aos meus pares, entes queridos que nunca conheci.
Nos braços de minha mulher resigno, encontro breve conforto e observo meus rebentos a brincar no chão da entrada.
Devaneios... Toda noite, quando por cansaço, fecho os olhos.

É só fechá-los essa cena vem como se implorasse para acontecer.
Preciso de um elixir.
Necessito de potência muscular!
Um grito libertador!
Meus músculos não estão suportando a força de minh´alma.
“Um grau de pureza adequado", é necessário para aliviar as dores dela.
E após muitas idas à loja, descobre-se que as medidas são diferentes.
Pois, os efeitos da abstinência são distintos também.
Sinto-me mais livre agora...
Aprendi a conviver com a indiferença, a contar outras histórias e a ouvir as mesmas de sempre.
Tenho várias reflexões sobre o livre arbítrio.
A mente é oficina do mal... Certa feita cheguei a julgá-lo como o "grande fardo" do homem.
Ele extingue a esperança e o destino e foca-se somente nas escolhas, certas ou erradas.

Somos, então, senhores de nossas escolhas?
Deus existe, e foi extremamente sábio em dar o livre arbítrio ao homem.
O Criador exime-se da criatura.
Apenas a espera, numa suposta posteridade celestial cheia de paz.
O que tenho feito para alcançá-la?
Mas o senhor de negócios escolhe como o outro homem deve viver de acordo com a cor de sua pele.
O homem branco é o meu deus e escolheu o meu destino e as minhas vontades.
Viemos de uma geração de escravos, ainda estamos submissos.
Assinaram minha liberdade, mas não disseram que viverei.
Talvez suporte o chicote outra vez, mas ainda temo a fogueira.
Lá vem eles, os encapuzados.
Tenho que ir agora.

Adeus.



Ku Klux Klan (também conhecida como KKK) era a nomenclatura de organizações racistas dos EUA que apoiaram a supremacia branca e o protestantismo em detrimento a outras religiões, no final do século XIX até meados do século XX.


A KKK, em seu período mais forte, atuava principalmente na região sul dos EUA, em estados como Texas e Mississipi.


Fundada em 1865 após o final da Guerra civil americana, seu objetivo era impedir a integração social dos negros recém-libertados, como por exemplo, adquirir terras e ter direitos concedidos aos outros cidadãos, como votar ou ter trabalhos assalariados.

sábado, agosto 22, 2009

Qual o diagnóstico, doutor?


"Seus lábios se movem mas não consigo ouvir você."
(Comfortably numb: Pink Floyd)

I

Não sei o que sinto... Um hiato de tristeza...

Culpa, remorso, medo, esperança, desejo, ânimo, nobreza

Sinto cansaço, deixe-me respirar... (...) (...)

Afira minha pressão, ausculte a pulsação; digo trinta e 03!

Dê-me o diagnóstico, preciso!

Preciso dele; minh’ alma te pede perdão! Dê-me, doutor!



II


Indeciso com o diagnóstico, flertando com a receita, tentei...

Tentei ministrar o remédio que havia na gaveta...

Seis em 06 h numa medicação autopunitiva, nem lhe disse obrigado!

Fico meditativo, confortavelmente entorpecido¹, sentado ao lado, desligo...

A TV; trêmulo sorrio, lançando dardos no reflexo dela... 

E nunca me dou por vencido...Tenho no walkman:

"We was young and in love²" dos Ramones nos ouvidos.



¹Comfortably numb: Canção do Pink Floyd, parte integrante do álbum The Wall (1979).
²Seven Eleven: Canção da banda punk novaiorquina Ramones. 




sexta-feira, agosto 21, 2009

Aos trancos e barrancos o trem passou...quem nele partiu, quem na estação ficou?




I

Rauzito cantou “As profecias”, explicou “Judas” na beira da piscina.
Preservou os medos, as sopas, suas moscas, paranoias e muitas dúvidas lhe afligiam.
Abandonou o coelho, passeou de dia, dormiu de noite e partiu as 07h por “Medo da chuva”, Metrô Linha 743.


II

Cachorro urubu”, o amigo Pedro lhe avistou acenando!
Abandonando a “Sessão das 10”, indo ao seu encontro metamorfoseou...
Escondendo as anotações do Doutor Pacheco; o bem e o mal rabiscados num romance astral.





Há exatos 20 anos, partia no "Trem das sete" para as montanhas azuis, Raul Seixas em 21/08/1989.
Sem passagem, sem bagagem, sem sorriso.
Pegou na estação, o último do sertão.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Reminiscências de um ex aluno soberbo



Quando estive com o professor...

Deixou escapar o quanto era culto, percebi.

Foi à última vez, esquivei-me.




... Nunca mais o vi.

segunda-feira, agosto 17, 2009

Compulsividade de uma fuga anunciada



I

Ontem me tornei invisível, sumi.
Desapareci de mim mesmo, parti a esmo.
Liberte-se também, tente, se enfrente!


II

Nunca olhe pela lente embaçada da vaidade!
Quando lhe perguntarem sobre virtudes, absorva desejos contemple seus medos.
Desvie o olhar supersticioso, confie em suas pernas e exorcize seus credos.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Ensaio de uma banda punk durante uma cegueira momentânea



I
O punk ficou quase cego.
Caolho está, muitas perdas: ‘Pistols’, ‘Clash’, ‘Ramones’.
Não é tão simples recomeçar...


II
Despiram o rock, vanguarda minimalista.
Não havia solos, fantasias épicas, acordamos nus!
Simples revolução, som de indignação...


III
Reinvente-se ‘P.I.L.’, ‘The Fall’, ‘Gang of Four’, entretenha-nos!
O pioneirismo do movimento é passado?
‘Buzzcocks’, queda temível, punk acessível?


IV
'Death Kennedys', rebelde manifesto, bares definitivos!
‘The Jam’ evaporou, autodestruição veloz programada, originais frustrações.
Até vieram outras bandas, ilusões...







“Sorry, no future for you...”
(Sex Pistols)


quinta-feira, agosto 13, 2009

Furacão de palavras (Hurricane, o poeta, e sua tentativa de eletrificar canções)



O folk teve seu poeta
Que, certa vez, por versos falados
Afirmara de pé ao microfone:
“Nunca crie nada!"
“Nunca crie nada!"

Deveras, serás mal-interpretado!
Terá que explicar...
O que já está confirmado:
"O que é bom é ruim
E o que é ruim, bom é sim!"

Mas, isso só se descobre depois da viagem, 
Motocicleta após o fluxo...
Quando se chega ao topo,
Percebe-se num lapso!
Persona falaz, na arena em cartaz.

Atrás das cortinas capciosa sonoridade!
Articula à falácia, foge do lar...
Só ao erro não induz.
Anti-sofisma particular.
Seus versos, um dolo produz!

Consolo de expressão!
Proposição épica, quando na verdade...
Era apenas poesia, frio nas narinas!
Aqueça-me mulher!
O vento me corta, umedece as retinas!
Subiu, rumo Dakota, partimos...




*A Robert Allen Zimmerman, 
mais conhecido como Bob Dylan, (24/05/1941).

O Deus de Deus (Dissertações de Curtis Jones sobre o Livre Arbítrio)



Inclina seus ouvidos...


O legado que Deus lhe deixou foi a capacidade de escolher qual o caminho seguir.

Você tem a persuasão para decidir o que moverá suas ações?


Será que nossas escolhas são as que realmente precisamos para termos um destino nobre?

Pensem, mortais racionais, pensem!

quarta-feira, agosto 12, 2009

O nível de discussão aumentou



I

Não vivo a minha época... Momento.
Muito menos, canto ou escrevo sobre ela.
Não busco palavras nas fatalidades!


II

Luto com minha consciência, derrota?
Como contemplar o que me seduz?
Mais honesto é compor um blues!

domingo, agosto 09, 2009

Os Retinas Queimadas e nossa viagem a Haight-Ashbury






Human be-in, San Francisco em 67.
Allen Ginsberg, poeta beat...
Frases hipnóticas de Lou Reed.
White ligh livre pensar, White heat!
Comunidade de esquisitões à oeste do Atlântico, de repente, da ilha da Rainha...
Sensações com “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band”.
Descobrimos o vinil, os botões coloridos.
Queríamos tocar mais rápido, vivíamos a mil com os dedos doloridos.
Há muitos como nós todos influenciados pelos beats.
Vida excêntrica, expressões autênticas, sentimentos reais “A Day In The Life”
Nos rádios e jornais.
Tenho a bússola da integridade e, a tudo isso
Junte a psicodelia que se assemelha
Aos visuais multicoloridos feitos com maestria.
E saiba, lhe juro!
Os hippies são capazes de trabalhar duro.
Fazem sua colheita na festa tribal na busca e na rejeição.
Cansado, abandono a dança, saio do local...
Nos lugares experimentais onde passo ela vem e comigo descansa.
Tenho em mente, platéia experiente.
Perseverança fluente, descompasso demente.
No começo, era ideal, sentíamos o presente.
Exercitávamos o vocal.
Juntos, somos um evento interativo, quase real.
Amamos-nos e ensaiamos os acordes.
Quando o importante não éramos nós promovíamos a celebração.
E partíamos a sós!
A canção soava sublime... Éramos o som
A banda Retinas Queimadas, um time de garotos, uma contemplação.
Ao rock, ao blues, as canções folk... 
Na veia, sem ciladas, corre nosso sangue quente!
Pretextos para exaltações ensaiadas inconsequentes!
Estou no palco?
Nunca sei...
Desde que peguei aquela carona de San Francisco a New York
Com aquela dona cheia de toques...
Passei a estudar com dedicação e comecei a cantar folk no foro de Avalon!
Rock tosco, som quente intra-uterino, influência londrina.
Anteriormente passamos por Liverpool...
Agora na América do Norte, pisamos na Carolina do Sul.
Adoramos pistas elevadas!
Aprenda a se soltar, querida Núbia.
Ajo com dúbio cavalheirismo te convidando assim?
Já viu isso?
Venha comigo... Insisto!
Vamos criar o lar do rock onde?
Na Costa leste ou na Costa oeste?
Numa periferia, "jam sessions" com Jerry Garcia.
E os caras, os parceiros...
Rasec Augusto, Curtis Jones, Please... Matreiros como Woody!
Guitarra, baixo e fotografias, também temos o Nosfa#, eletrônica é a bateria.
Atacam o rock e fazem a harmonia.
Amantes do blues, vamos começar!
A inspiração nos conduz e nos faz declamar...
Todos aqueles poemas da poetiza
Em N.Y.quem sabe um dia, abriremos...
Para Patty Smith, numa noite sublime e de caos onírico.
Foi um sonho que escolhemos, ela admite...






*Retinas Queimadas, é um projeto sobre uma banda virtual de rock, punk e blues tosco.

sexta-feira, agosto 07, 2009

Case comigo, Núbia Poison!






Do globo da morte
A contemplo
Ela vai à faculdade
Gosta de flores
Ora no templo

Ouve músicas,
Ama “The Cramps”
Enquanto os palhaços
Jogam cartas
O trailer treme, antes

Quando bato
Surge a fera
Me ataca!
Vejo o mal, mutação
Bala de prata?

És meu patrão!
"Apenas solitário"
Um palhaço me relata
Consternação
Núbia, em meio à narcisos

São suas preferidas
Pelo olho de vidro
Morrerias do coração
Mrs. Faith tinha-me mostrado

Nesse ínterim, absorto em meu acordeão
E, pelo esforço, a resposta
Veio a constatação
Nunca me casarei com você
As alianças...
... Devolvo-lhe, pois não

Doze doses tive que tomar
Para bonita
Poder lhe achar
Admita
Esse excesso de vermute
Foi fatal, falta-me saúde

Mas hoje, depois de ontem
Tenho muita sede
Não consigo contar direito
Minhas histórias
Saio pela tangente,
Esqueço as glórias


A convocação chegou
Foram dois anos de disciplina
Longe dela, me esfacelei
Ao Haiti eu fui, oh minha menina
Tornei-me pára-quedista
Saltar do firmamento virou rotina


Naquela tarde
Peguei três trens para provar-te
Trouxe-lhe a notícia
Escrevi teu nome no céu
Seu nome é Núbia Poison
Te levo ao altar, abro teu véu


Fui criado num pequeno lago
E agora, estamos no oceano
Poseidon, deus dos mares
Me afoga e não percebo
Eu tenho um só plano
Preciso de emprego


Trabalho de graça,
Pode acreditar
Todo mês, fim do ciclo
Te sussurro um detalhe
É minha proposta, suplico
E sobre ela justifico


Sou domador, homem bala
Limpo a ala dos elefantes
Mas, no encontro, sou galante
Lançador de facas,
Preciso
Levo flores, seus narcisos


Aí, não sei como
O tempo acelera e pára
Tudo se dispersa
Comunico aos amigos
Não há inércia
Minha vontade, obsessão

Qual é seu problema, garoto?
Me fazem a indagação
E assim,
A contar recomecei
Acabei de conhecer
A mulher com quem me casarei


Não faço idéia de quem tu és?
Sou um contador de histórias
Mentiras?
Romances?
Contos?
Devo acreditar em seus encantos?


Também sou músico
Faço canções e as canto
O artista é surreal
Não possui matéria
Só sedução
Você é a única que não compreende meu coração


Por ti, pelas suas negações
Sou um retrato mal acabado
De mim mesmo
De quem é o problema?
Barco à deriva, abalado
Vou a esmo, grand’ ilema


Limparei tua piscina
Veja e constate
Arrumarei teu jardim
Nada é invenção
Serás minha mulher
Quero-te agora, confirme a ação!


Qual o problema dos icebergs?
Os noventa por cento abaixo?
Ou os dez por cento acima?
Una-se a mim, já!
Montemos uma banda
A vida nos ensinará


Dos acordes necessários
Fiz uma canção de saudade
Som de reencontro...
De minha guerra
Para a cidade
É breve, mas com intensidade:

“Em meio aos lençóis
Eu voltei
Estendidos no varal
Lhe beijei”


Quer me mostrar
Que livros está lendo?
Há uma segunda vida?
Uma personagem, outra família?
Um filho bastardo
Fora do casamento?


Indago, interrogo
Lamento
Passava muito tempo
Fora de casa
Mesmo assim, prefiro acreditar
Em você, e não em mim


Não é verdade!
Qual a autenticidade?
Os carros do comercial, calamidade?
Moscas presas no pára-brisas?
As siamesas asiáticas?
Geram desconfiança...

Exotismo que altera minha esperança
Meu Deus, como fui criança
Abelhas na colméia
Voam e deslizam
Apague a luz
Sairemos vencedores
Vamos pelo amor
Que conduz as nossas dores.





*Homenagem a Núbia Poison, roadie, backing vocal e fã dos Retinas Queimadas
*Texto adaptado ao filme: "Big Fish" (2004), direção: Tim Burton.