quinta-feira, junho 04, 2009

O encontro do jornalista policial com o líder do bando de gatunos







O sequestrador de tomates
Pediu-me o resgate
Mandou-me as orelhas
Mandou-me flores
Mostrou-me a vida
Modos de cultivar rancores.


Só não contava
Que...
Éramos pobres demais
Você afirma
Não possuir cafezais
Navios no cais
Ações operacionais
Carreira acadêmica
Outros idiomas
Tanto faz.


Mas se expressa
Com sinceridade confessional
Exige-me o que não possuo
Todos perdem no final
Depois do disparo
Houve recuo
São cinco tampinhas
E alguns trocados agora
Lá fora, aquele orelhão
Na porta do bar
Fazia menção
Tocava sempre às 14h00.


Hora do chá, paraíso artificial
Transformando o dia-a-dia
Num inferno real
Na infância era lúdico
Ludibrioso, se tornaste engodo
Quadrinhos ‘Marvel’
Colecionador fervoroso
Em seu quarto a delirar
Sonhava ser herói
Ser imortal
Poder voar
Que volta a vida dá
Hoje ‘Coringa’
Inimigo das leis.


Visitas às conveniências
Sempre depois das seis
O frentista lhe conhece
Sabes que não é freguês
O poeta, em pitadas
Dá tempero aos seus versos
E tu, em camadas
Constrói fama
De aviltante perverso
Aposente-se do crime, tratante
Entre num banco como cliente
Pelo menos uma vez na vida
Já pensou numa história?
Biografia de um ardiloso ciente.


Seria sensacional
Use a memória
Sua vida possui
Toda a carga dramática
E passional
Seus dedos cheiram pólvora
Relaxe o punho
Velhaco
Simples assim
Como traficar tabaco
Metafórica e concisa
Essa é sua vida
Só é honesto consigo mesmo
Mais ninguém.


Diga-me uma coisa
Não sou seu amigo
Mas lhe conheço muito bem
Das páginas dos jornais
Nas notas policiais
Quanto valeu o último?
Já gastou toda grana?
Investiu em carros, imóveis?
Fez orgias, tramas
Mulheres sacanas custam caro
Novas investidas
Novos dramas
Novas camas
Financiou operações?


Percebo que
Suas roupas melhoraram muito
Apodera-se de bens alheios
E, destina-os a terceiros
Biltre patife
Naquele natal
Você não estava tão sozinho, meu rapaz
Lembra-se agora?
Que te refresquei as idéias
És capaz
De lembrar-se daquela cela?
E, mesmo em ascensão
A queda o levará ao chão
Fique atento aos sinais
As investigações
Quem sabe um dia podem ser-lhe fatais.

Um comentário:

  1. Este, com absoluta certeza, é um dos melhores poemas que já li na vida!

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