sexta-feira, junho 12, 2009

Minha morta - Retinas Queimadas




Uma vez, amei perdidamente
Porque amamos brevemente?
É estranho ter na mente, uma predileção
No coração, uma única inclinação
Na boca, inteira satisfação

Um nome que pronunciamos como uma prece
Encontrei-a e amei-a em clamor
E vivi em sua ternura, em seus braços, em seu olhar
Nem sabia se era dia ou noite, não havia rancor
Quando retirava seu vestido, quando me envolvia em seu suor

Não vou contar nossa história
O amor só tem uma
E é sempre a mesma, fatal
Em minha mortalha negra
Narrarei seu funeral

Voltou molhada da chuva
E, no dia seguinte tossia, tossia
Tossiu por uma semana e ficou de cama
Médicos chegavam, receitavam, saiam
Mas a testa era quente e as mãos ardiam

Um padre sarcástico
Disse-me enfático:
- Sua amante foi-se... E fez um sinal
Levei como insulto, expulsei-o do local
Mas veio outro, terno e bondoso e ao falar dela, um pequeno conforto

Consultaram-me sobre o enterro, as coisas relacionadas
Caixão, roupas, música, cerimônia e unção
- Ah, meu Deus, perdão!
Então, ela foi enterrada
Nunca esquecerei o ruído das marteladas

Caminhei pelas ruas
Depois voltei para casa
No dia seguinte, em desatino
Parti em viagem
Paris seria o destino.



Poema baseado no conto: "A Morta":
Guy de Maupassant (1850-1893)

Assista no Youtube: Retinas Queimadas - Minha morta

2 comentários:

  1. Muito bonito. Admiro muito seu conhecimento literário.

    Achei "engraçado" a situação de no dia 13, sem antes ter visto esse, escrevi um poema com o nome de "Minha Imortal".

    Por fim, fazes ótimos trabalhos.

    um abraço.

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  2. Faltou o finalzinho, Lou. Tinha que continuar com o vagar dos mortos no cemitério.

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